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Mostrando postagens de 2022

O DESTINO DECIDE PELOS TÍMIDOS - Conto - O. Henry

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O DESTINO DECIDE PELOS TÍMIDOS O. Henry (1862 – 1919)   Certa feita, deparei-me com uma revista que valia dez centavos num banco de um parque da cidade. Ao menos, foi este o valor que o homem me pediu quando me sentei ao seu lado. Era uma velha revista, mofada e suja, que continha em si algumas histórias absurdas. Eu estava certo disto. E o homem — ou minha revista — acabou por se mostrar um álbum de recortes. Para testá-lo, disse com afetado desembaraço: — Sou jornalista e ando em busca de assunto para crônicas. Então, lembrei-me de entrevistar os... sem trabalho, que passam dias e noites nos bancos dos jardins públicos.  O maltrapilho sorriu, fitou-me com olhar irônico e atalhou: —Pois sim. O senhor não é repórter. Pensa que se vive, assim, olhando para quem passa, sem aprender alguma coisa? Polícia e jornalista são duas raças que eu conheço de longe. O senhor não tem o que fazer e está com vontade de conversar... Pois vamos em frente. Esperou um instante e, como eu h

A PAPISA JOANA - Narrativa Breve - Giovanni Boccaccio

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  A PAPISA JOANA Giovanni Boccaccio (1313 – 1375)   João, apesar do nome masculino, era, na verdade, uma mulher, cujo inaudito atrevimento a tornou inusitadamente conhecida de todos em seus dias e dos que vieram depois. Embora alguns digam que ela era de Mainz, mal se sabe qual era o seu próprio nome e, segundo alguns, chamava-se Giliberta. Sabe-se que ela foi amada por um jovem estudante em sua juventude, e ela tanto correspondeu a esse amor que, tendo vencido o medo virginal e o pudor feminino, fugiu da casa de seu pai em segredo e — mudando de nome e vestindo-se como um garoto — seguiu o namorado. Depois, estudando na Inglaterra, onde todos a tomavam por jovem clérigo, aplicou-se aos estudos de Vênus e da literatura. Tendo falecido o jovem, e sabendo-se possuidora de elevado intelecto e de inclinação pela ciência, manteve o hábito de religioso, e passou a evitar a companhia dos homens, escondendo de todos a sua condição de mulher. Aferrando-se diligentemente aos estu

UMA PANTOMIMA DE SUCESSO - Narrativa Breve - H. R. Tlyr

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UMA PANTOMIMA DE SUCESSO H. R. Tlyr (Séc. XX)   Sir Frederick Bridge, famoso organista da abadia de Westminster, estava na Rússia com seu amigo, o romancista James James L. Player. Acabavam de visitar Moscou e já estavam de partida para Leningrado, onde Sir Frederick deveria realizar alguns concertos. Seduzidos pelas maravilhas da arquitetura oriental da cidade, os amigos não perceberam que o tempo voara. Quando Mr. Player consultou o relógio, viu que só lhes restavam trinta minutos para chegarem à estação ferroviária. —Depressa, um carro! Encontrado um táxi, surgiu uma nova dificuldade: como explicar ao motorista que queriam chegar à estação?  Aquele homem russo, de pouca instrução, não sabia uma palavra de inglês e eles não falavam russo. —Imite uma locomotiva — propôs o romancista. — Enquanto você move os braços em círculos, como se impulsionasse a máquina, dirá: “Tchaca, tchaca, tchaca, tchaca...” Ao mesmo tempo, eu farei o gesto de puxar a corda de escapamento e

A HISTÓRIA DE OMAR E O VALOR DA ÁGUA - Conto de Emilio Vilaró

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  A HISTÓRIA DE OMAR E O VALOR DA ÁGUA Emilio Vilaró Tradução de Paulo Soriano   Era uma vez um homem chamado Omar, que vivia no pequeno oásis de Izmir. Izmir, como logo se saberá, é um dos muitos oásis que se encontram em meio à rota das caravanas que se deslocam a Bagdá. Pequeno, mas suficientemente importante a permitir os preparativos à última e mais importante etapa da viagem, antes de adentrar-se a grande cidade. Por ser a última grande escala, permitia ao viajante prevenir sobre a sua chegada iminente, inteirar-se dos preços atuais de mercado, deixar no oásis os objetos não mais necessários, ou que poderiam ser recolhidos quando do retorno, e organizar as mercadorias destinadas à venda. Embora não fosse o mais próximo dos oásis da capital, nele Omar recebia várias caravanas por mês, cujos integrantes ali chegavam para assear-se, descansar e preparar-se para a tão esperada chegada ao destino. Era a última grande parada antes da chegada a Bagdá. Perdoem-me por ter