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Mostrando postagens de abril, 2020

O MÉDICO E O SAPATEIRO - Conto breve de Mário Terrabatava

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O MÉDICO E O SAPATEIRO (Baseado numa anedota inglesa) Mário Terrabatava Porque a sua mulher adoecera seriamente, um sapateiro de Londres procurou um médico. Todavia, vendo que o homem se vestia pobremente, e   imaginando que aquele pobretão não dispunha de recursos suficientes para cobrir os seus honorários, tratou o médico de dispensá-lo, dizendo que estava ocupado e que não dispunha de tempo para ver a mulher enferma. Conhecendo o motivo subjacente à resposta recebida, disse o sapateiro ao médico: — Doutor, disponho de dez libras, que economizei com grande sacrifício. Com elas, hei de pagar por seus serviços, quer o senhor cure, quer mate a minha mulher. Diante de tal promessa, e lhe parecendo que o homem falava com sinceridade, o doutor foi visitar a enferma. Mas, poucos dias depois, a mulher desceu ao túmulo. Tendo o sapateiro se recusado a realizar o pagamento, o doutor foi a juízo, reclamando as dez libras prometidas. Citado, o sapateiro apresentou-

UMA BOA SAÍDA - Conto de Narciso Campillo

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UMA BOA SAÍDA Narciso Campillo (compilador) (1835 – 1900) Tradução de Paulo Soriano O Califa Hegiages, o terror de seus povos e horror do gênero humano, costumava viajar incógnito, percorrendo as cidades e vilas de seu império sem séquito e estandartes. Certo dia, encontrou um árabe, travou com ele uma conversação e disse-lhe: — Olá, amigo! Gostaria que me dissesse quem é esse tal de Hegiares, do qual tanto se fala. — Hegiages — respondeu o árabe — não é um homem. É um tigre, um monstro. — O que se pode atribuir a ele? — Todos os crimes possíveis. — E você, já o viu alguma vez? — Nunca. — Pois bem, levante os olhos — disse o sultão. — Eu sou Hegiages. O árabe, sem surpreender-se, mirou-o fixamente e disse: — E o senhor, sabe quem eu sou? — Não. Não sei. — Pois bem, eu sou da família de Zobair, na qual cada um de seus membros fica louco em um dia do ano. Meu dia é hoje. Hegiages sorriu ao ouvir a escusa tão engenhosa e o

A PATITURA INTOCÁVEL - Conto de Narciso Campillo

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A PATITURA INTOCÁVEL Narciso Campillo (1835 – 1900) Tradução de Paulo Soriano Mozart e Haydn foram convidados a um jantar. Mozart, que era um companheiro muito alegre e grande aficionado do champanhe, disse a Haydn: — Aposto seis garrafas de champanhe que componho, agora mesmo, uma peça de música que você não vai conseguir tocar. — Aceito a aposta — disse o maestro, rindo. Mozart se dirigiu a uma escrivaninha, rabiscou um punhado de notas e entregou a partitura ao velho Haydn. Lançando os olhos no papel, o mestre admirou-se com a simplicidade daquela pequena composição, que, a um primeiro olhar, não parecia engendrar qualquer dificuldade em sua execução. Então Haydn sentou-se ao piano, exclamando: — Mozart tem indigestão de dinheiro e quer pagar champanhe. — Veremos — respondeu este, esfregando as mãos. Haydn, depois de haver preludiado, parou subitamente a execução da pequena peça. — Como você quer que eu toque isto? — exclamou. —

DE CIMA PARA BAIXO - Conto Humorístico de Artur de Azevedo

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DE CIMA PARA BAIXO Artur de Azevedo (1855 – 1908) Naquele dia o ministro chegou de mau humor ao seu gabinete, e imediatamente mandou chamar o diretor-geral da Secretaria. Este, como se movido fosse por uma pilha elétrica, estava, poucos instantes depois, em presença de sua excelência, que o recebeu com duas pedras na mão. — Estou furioso! — exclamou o conselheiro. — Por sua causa passei por uma vergonha diante de sua majestade o imperador! — Por minha causa? — perguntou o diretor-geral, abrindo muito olhos e batendo nos peitos. — O senhor mandou-me na pasta um decreto de nomeação sem o nome do funcionário nomeado! — Que me está dizendo, excelentíssimo...? E o diretor-geral, que era tão passivo e humilde com os superiores quão arrogante e autoritário com os subalternos, apanhou rapidamente no ar o decreto que o ministro lhe atirou, em risco de lhe bater na cara, e, depois de escanchar a luneta no nariz, confessou em voz sumida: — É verdade! Passo

NO BOTEQUIM - Conto Humorísitco - Paulo Soriano

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NO BOTEQUIM Paulo Soriano   — O senhor me conhece?   — Não.   — Então, por que está me olhando?   — Ora, porque tenho olhos, ué! Mas eu queria...   — Então, por que não olha para outra coisa?   — Como assim?   — Por que logo eu? Por que fica assim me olhando desse jeito? Por quê?   — Moça... Olha, eu...   — O senhor é tarado?   — Quem, eu?   — Sim, o senhor mesmo.   — Claro que não! Olha, você está...   — Tá me achando bonita, tá me achando feia, tá me achando o quê?   — Ora, não estou achando nada... Moça, esse cop...   — Você é mesmo um descarado, não?   — Eu...   — Pois passe bem. *   — Mas é cada uma...   — O quê?   — A moça... achou que eu estava olhando pra ela.   — A que saiu?   — Sim.   — E não estava?   — Estava, sim... Mas, não com intenção.   — Intenção de quê?   — Ora, você sabe.   — Mas por que você estava olhando pra moça?   — Eu queria fazer uma boa ação.   — Você agora é escoteiro?   — Eu só queri

O TERRÍVEL EFEITO COLATERAL - Conto Humorístico - Júlio Portus Cale

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O TERRÍVEL EFEITO COLATERAL Júlio Portus Cale Tito Viegas ficou decepcionado ao ver que o atendente era uma atendente. Aflito, constrangido, pediu à moça para falar com o gerente, que logo chegou com o seu impecável jaleco branco. — Pois não? Desconfiado, Tito esperou que a atendente se afastasse. Aproximou os lábios ao ouvido do gerente e sussurrou: — Amigo, tenho um encontro mais tarde... Você sabe, né? Um encontro quente. Acontece que estou com uma dor insuportável lá embaixo. Você sabe... Na área de lazer. — Nos testículos? — Por favor, fale baixo! A moça pode ouvir!   Sim. Lá mesmo. O gerente saiu e voltou com um medicamento: Testiculex . — Esse é tiro e queda! Somente cinco minutinhos e... adeus dor nos col... — Embrulhe, embrulhe! É uma emergência. — Moço, como farmacêutico, é meu dever preveni-lo — disse, muito circunspecto, o farmacêutico.   — Esse remédio é espetacular, tiro e queda. Mas tem um efeito colateral: causa uma diarre