A PATITURA INTOCÁVEL - Conto de Narciso Campillo
A PATITURA INTOCÁVEL
Narciso Campillo
(1835 – 1900)
Tradução de Paulo Soriano
Mozart e Haydn foram convidados a um jantar.
Mozart, que era um companheiro muito alegre e grande aficionado do champanhe, disse a Haydn:
— Aposto seis garrafas de champanhe que componho, agora mesmo, uma peça de música que você não vai conseguir tocar.
— Aceito a aposta — disse o maestro, rindo.
Mozart se dirigiu a uma escrivaninha, rabiscou um punhado de notas e entregou a partitura ao velho Haydn.
Lançando os olhos no papel, o mestre admirou-se com a simplicidade daquela pequena composição, que, a um primeiro olhar, não parecia engendrar qualquer dificuldade em sua execução.
Então Haydn sentou-se ao piano, exclamando:
— Mozart tem indigestão de dinheiro e quer pagar champanhe.
— Veremos — respondeu este, esfregando as mãos.
Haydn, depois de haver preludiado, parou subitamente a execução da pequena peça.
— Como você quer que eu toque isto? — exclamou. — Minhas duas mãos devem estar ocupadas em cada extremo do teclado e, ao mesmo tempo, têm que, justamente, tocar uma nota que está no centro.
— E isto o detém? Pois bem. Verá como se toca — respondeu Mozart, pondo-se ao piano.
De pronto, se põe a preludiar. Chegado à famosa passagem, Mozart, dedilhando os extremos do piano e sem parar um segundo sequer, toca a nota do centro. Como? Tangendo com o seu nariz a tecla mediana.
Todo mundo caiu na gargalhada e a música prosseguiu.
Diga-se que Haydn tinha o nariz chato, ao passo que Mozart tinha bem comprido o seu.
Haydn pagou, pois, a exiguidade de sua protuberância nasal com seis garrafas de champanhe.
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