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Mostrando postagens de janeiro, 2023

JANTAR EM SÃO PAULO - Conto - Luiz Raimundo

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  JANTAR EM SÃO PAULO Luiz Raimundo                      Seu Zé Honório era um próspero fazendeiro no município de Carmo do Rio Claro, no Oeste de Minas. Muitas cabeças de gado – tanto de corte como vacas leiteiras. Três filhos o ajudavam na administração da propriedade, e já estava numa idade de não se preocupar muito com os negócios, já que os filhos eram ajuizados e sabiam tocar a fazenda sem nenhum contratempo.                    Sempre foi muito caseiro o Seu Zé – ele e Dona Zelinha, não eram muito de viajar. Ele, de quando em vez, dava um pulinho em Formiga para negociar com Sô Juquita Rezende, ou em Campo Belo, para prosear com seu amigo Luiz Gibran.                    Um dia deu na telha de conhecer São Paulo. Dona Zelinha esconjurou – lá não vou de jeito nenhum. Cidade de muito atropelo, ladrão pra tudo quanto lado. Vou de jeito nenhum. Os filhos, por conta dos afazeres ficavam só adiando a viagem, para fazer companhia ao pai.                    Certo dia, o velho

O AVARENTO E O INVEJOSO - Narrativa Clássica - Flávio Aviano

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O AVARENTO E O INVEJOSO Flávio Aviano (Final do século IV — início do século V)   Do alto dos céus, Júpiter enviou Febo à Terra para inteirar-se da dúbia vontade dos seres humanos. Apareceram, diante de Febo, dois homens cujos espíritos eram bem distintos: um era avarento; o outro, invejoso. — O que quereis pedir-me? — perguntou Febo. — Dizei-me e vos será concedido. E àquele que primeiro pedir, darei em dobro ao segundo. Ao ouvir isto, acreditando que o companheiro demandaria por riquezas, quis o avarento que o invejoso formulasse primeiro o pedido, para que obtivesse o dobro do que àqueloutro caberia. O invejoso, porém, percebendo, de pronto, a astúcia do avarento, que haveria de receber em dobro o seu quinhão, não pôde conter a inveja. Então, pediu a Febo que lhe despojasse de um olho, para que o seu companheiro tivesse ambos os olhos arrancados. Febo, vendo isto, ascendeu a Júpiter, e, sorrindo, contou-lhe que, na Terra, a perniciosa inveja reinava com tal vigor q

HEMORRAGIA - Narrativa Verídica - Paulo Soriano

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HEMORRAGIA   Meados do século XIX. Certa manhã, um médico foi chamado ao campo para visitar uma senhora que padecia, há alguns dias, de uma “nevralgia facial” — provavelmente, diríamos hoje, uma forte sinusite — muito dolorosa. O médico a examinou.   Aproximando-se da mulher, desferiu, na face da doente, junto ao nariz, um soco tão intenso que lhe causou uma intensa hemorragia. Sem nada falar, o médico abriu a porta, subiu à carruagem e partiu a galope. O marido correu, furioso, atrás do médico, alcançando-o em Limonges. Queria fazer com que o médico pagasse caro por tão vil atrevimento... — O que você quer de mim? — perguntou o doutor.   — Você não me chamou para curar a sua mulher? — Sim, mas... — Pois bem, agora ela está curada.   Volte para casa.   Se eu dissesse que daria uma pancada em sua mulher, certamente     ninguém — nem você e nem ela — teria consentido.   Já verá que tenho razão. Adeus! Tendo assim falado, fechou a portinhola e partiu. O marido voltou