O AVARENTO E O INVEJOSO - Narrativa Clássica - Flávio Aviano
O AVARENTO E O
INVEJOSO
Flávio Aviano
(Final do século IV — início do século
V)
Do
alto dos céus, Júpiter enviou Febo à Terra para inteirar-se da dúbia vontade
dos seres humanos.
Apareceram,
diante de Febo, dois homens cujos espíritos eram bem distintos: um era
avarento; o outro, invejoso.
—
O que quereis pedir-me? — perguntou Febo. — Dizei-me e vos será concedido. E
àquele que primeiro pedir, darei em dobro ao segundo.
Ao
ouvir isto, acreditando que o companheiro demandaria por riquezas, quis o
avarento que o invejoso formulasse primeiro o pedido, para que obtivesse o
dobro do que àqueloutro caberia.
O
invejoso, porém, percebendo, de pronto, a astúcia do avarento, que haveria de
receber em dobro o seu quinhão, não pôde conter a inveja. Então, pediu a Febo
que lhe despojasse de um olho, para que o seu companheiro tivesse ambos os
olhos arrancados.
Febo,
vendo isto, ascendeu a Júpiter, e, sorrindo, contou-lhe que, na Terra, a
perniciosa inveja reinava com tal vigor que muitos se expunham ao perigo para,
tão somente, ver, com deleite, o seu próximo padecer de penas e infortúnios
ainda maiores que os seus.
Versão em português de
Paulo Soriano a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de autor
anônimo do séc. XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha,1521).
Narrativa publicada
originalmente em “Museu das Fábulas”, de Iba Mendes (http://www.museudasfabulas.com/2022/02/o-avarento-e-o-invejoso-fabula-de.html)
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