A VIÚVA E O SAPATEIRO - Conto de Mário Terrabatava
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A VIÚVA E O SAPATEIRO Mário Terrabatava (Conto inspirado numa antiga narrativa medieval.) Em minha terra, se um homem sem prole masculina morre ab intestato — ou seja, sem deixar testamento —, seus bens, porque não expressamente destinados aos familiares supérstites, são arrecadados pelo e para o tesouro real, ainda que o defunto tenha filhas e a sua esposa esteja viva. Mulher e filhas, graças ao descaso da Divina Providência e à Imprevidência do desgraçado varão, estão condenadas à indigência ou à prostituição (se não a ambas, a depender da idade da viúva), acaso não tenham parentes vivos e generosos — o que é mui raro; menos a parentela, mais a generosidade — que lhes garantam um miserável sustento. E tudo é assim porque os agentes do tesouro são inclementes e, se lhes não é exibida prontamente uma certidão autêntica, de inteiro teor, do testamento, arrancam das mulheres o último dos últimos vinténs, quando não algo mais. Algo menos metálico e mais lúbrico.