A VINGANÇA DE MICHELANGELO - Narrativa Histórica - Anônimo do séc. XIX
A VINGANÇA DE
MICHELANGELO
Anônimo do séc. XIX
Enquanto
Michelangelo pintava o seu sublime quadro do Juízo Final na capela Sistina, o
papa Paulo II foi um dia visitá-lo. O séquito do pontífice era numeroso, e
muitos daqueles que o compunham eram incapazes de compreender e apreciar a obra
de gênio do grande pintor. Entre estes achava-se o mestre de cerimônias do
sacro palácio, cardeal de Cesena.
O
papa perguntou-lhe o que pensava desta pintura; e como um cardeal não é de
direito homem de gosto e bom juiz em matéria de artes, o senhor de Cesena
respondeu prontamente que uma tal pintura seria própria, quando muito, para
ornar a sala de uma hospedaria, mas não uma igreja.
Os
artistas amam muito pouco a crítica, e nem sempre desgostam da vingança. A de Michelangelo
não se demorou muito tempo. O cardeal teve um lugar no quadro no meio dos condenados:
uma grande serpente o cinge e lhe devora o pênis; a sua cabeça está enfeitada
com um par de orelhas de burro, sem dúvida em memória do seu belo intelecto. A
semelhança desta figura com o cardeal era tal que a malícia do pintor foi bem
depressa conhecida de todos, e chegou aos ouvidos do mestre de cerimônias. Em
vão, ele pediu a Michelangelo que o tirasse do lugar de eternos tormentos, em
que o havia lançado, sem atenção alguma pela sua hierarquia e reputação. O pintor
foi irredutível; e o cardeal, aflito, recorreu ao papa para o salvar do
escárnio a que Michelangelo, inexorável, o havia exposto.
Paulo
II tirou-se deste embaraço com muito espírito, dizendo:
—
Eu tenho todo o poder no céu e na terra; se Michelangelo lhe tivesse metido no purgatório,
eu poderia ainda fazer alguma coisa por você; ele, porém, ele o meteu no
inferno, de onde não há remissão de espécie alguma.
Fonte: “Archivo Popular”, Lisboa, edição de 16 de junho de 1838.
Fizeram-se breves
adaptações textuais.
Cuidado com as vingança S de estimação. Miguel Ângelo não perdoou ao Cardeal, mesmo nos abismos do inferno.
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