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O VOTO DO SENHOR VAN DEN TRUFF - Conto Humorísitico - Armand Silvestre

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O VOTO DO SENHOR VAN DEN TRUFF Armand Silvestre (1837 – 1901) Tradução de autor anônimo do séc. XX I O Sr. Van den Truff era um homenzinho baixo e gordo, de grandes suíças em forma de barbatanas, abdômen proeminente, pernas delgadas e tortas, e com um ar de importância que dava mesmo vontade de lhe encher a cara de bofetadas. O desastrado que lhe puxasse pela lingua ouvir-lhe-ia decerto mais futilidades do que bons conceitos, porque o pretensioso sujeito assemelha-se a um odre cheio de vento do que uma ânfora de vinho generoso. No entanto, como era um pedante enfatuado e todo presumido de ciência tudesca, o Sr. Van den Truff, na pequena cidade em que vivia, dava leis em política e passava pelo mais ativo agente das ambições germânicas d'além do rio Mosa. Estava sempre falando na Alemanha; na destruição das raças latinas que, a seu ver, tinham os seus dias contados; na necessidade de um império que aproveitasse a obra de Carlos Magno: e, finalmente, na prussificação de t...

O PRÍNCIPE FELIZ - Conto - Oscar Wilde

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O PRÍNCIPE FELIZ Oscar Wilde Tradução de autor anônimo do séc. XX No lugar mais alto da cidade, no topo de uma coluna imensa, erigira-se a estátua do Príncipe Feliz. Recobrira-se o corpo do mais fino ouro, os olhos eram duas safiras e na espada brilhava um volumoso rubi vermelho. Era muito admirada. “É bela como um cata-vento”, exclamava maravilhado o prefeito, querendo frisar a sua reputação de artista, “apesar de não ser útil…”, acrescentou, temendo que o acreditassem despido de senso prático, o que ele possuía em dose elevada. — Por que não há de você ser parecido com o Príncipe Feliz? — dizia a mãe enternecida ao filhinho que chorava, pedindo a lua. — Ele nunca tem sonhos impossíveis. — Gostaria de saber se alguém no mundo é feliz… — murmurou, desapontado, um homem, ao contemplar a estátua maravilhosa. — Parece um anjo — dizem as crianças ao sair da catedral nos seus mantos vermelhos e impecáveis aventais brancos. — Como sabem? — indagou o professor de matemática. — Você...

O MESTRE - Conto - Oscar Wilde

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O MESTRE Oscar Wilde (1854 – 1900) Tradução de Paulo Soriano Então, quando a escuridão envolveu a terra de José de Arimateia, tendo ele acendido uma tocha de pinho, desceu da colina em direção ao vale. Pois ele tinha afazeres em sua própria casa. E viu, ajoelhado sobre o sílex do Vale da Desolação, um jovem que estava nu e chorava. Seus cabelos eram da cor de mel e seu corpo era como uma flor branca, mas ele havia ferido o próprio corpo com espinhos e, com cinza, coroado os cabelos. E aquele que tinha grandes propriedades disse ao jovem nu, que chorava: — Não me admira que a tua tristeza seja tão grande; porque, certamente, Ele era um homem justo. E o jovem respondeu: — Não choro por ele, mas por mim mesmo. Eu também transformei água em vinho, curei leprosos, dei vista aos cegos. Eu andei sobre as águas e expulsei demônios daqueles que habitavam os sepulcros. Eu alimentei os famintos no deserto, onde não havia comida, e ressuscitei os mortos de suas estreitas moradas. E, con...

GARÇOM, UM CHOPE! - Conto - Guy de Maupassant

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GARÇOM, UM CHOPE! Guy de Maupassant (1850 – 1893) Tradução de autor anônimo do séc. XX Qual o motivo que me levou a entrar naquela casa de bebidas? De nada sei. Estava frio. Uma chuva fina — um pó d’água em redemoinho — gelava os bicos de gaz com uma bruma transparente e os reflexos, que se estendiam pelo calçamento, mostravam a lama úmida e os pés barrentos dos transeuntes. Não ia a parte alguma. Caminhava um pouco após o jantar. Passei pelo Credit Lyonnais, pela rua Vivienne e outras ruas ainda. Vi, subitamente, uma grande casa de bebidas já meio cheia. Entrei sem dar por isso: não tinha sede. Com o olhar, procurei um lugar onde não ficasse muito apertado e fui-me sentar ao lado de um homem que me pareceu velho: fumava um cachimbo de dois sous preto como carvão. Seis ou oito pires de vidro empilhados sobre a mesa, diante dele, indicavam o número de chopes que já tinha absorvido. Não examinei meu vizinho. Somente vira nele um bebedor de chopes, um desses frequentadores de ...