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NATAL, PALAVRA MÁGICA - Conto - Wessel Smitter

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NATAL, PALAVRA MÁGICA Wessel Smitter (1892-1951) Tradução de autor anônimo do séc. XX Esta é a história de Hugh Glass, uma história verdadeira de indominável coragem; do poder da vontade contra obstáculos quase invencíveis e é, também, a história do Natal, da mágica força de uma simples palavra, que transformou no perdão a mais ardente sede de vingança. No verão de 1823, o major Henry conduzia uma expedição, a oeste do rio Missouri, composta de uns 80 homens. No entardecer de um dia de julho, dois deles foram enviados para a frente, à escoteira, a fim de escolherem lugar para o acampamento, naquela noite. Ao lado de um regato, os dois batedores encontraram Hugh Glass, o caçador, horrivelmente mutilado. Um lado do seu rosto fora arrancado e, na perna esquerda, acima do joelho, o osso aparecia. Perto da corrente, via-se um urso pardo, morto. A expedição deixara São Luís, na primavera, para apanhar ursos em armadilhas nas Montanhas Rochosas, repletas de índios. Glass, um gigante, n...

APOSTASIA - Conto - Paulo Soriano

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APOSTASIA Paulo Soriano Com o coração afogado em angústias, o noviço Eldrictch correu à cela do sábio frade MacAllister — cujos olhos, de tão velhos e cansados, já não filtravam a luz — e lhe disse: — Frade, preciso de teu auxílio. — Senta-te — disse o frei. — O que te apavora? — Ontem, na cidade, morreram dois homens. Um deles será dignamente sepultado em nosso convento; o outro ganhará uma cova rasa no campo inculto reservado aos hereges e suicidas… — Continue. — Conheço ambos os homens — disse Eldrictch. — O mais velho era um homem de coração puro. Talvez o homem mais bondoso, mais caridoso, que já conheci. Ia, toda semana, à gruta dos lazarentos, matava-lhes a sede, limpava-lhes as feridas e alimentava-os com pão quente e peixe fresco. Mas, agora que está morto, temo que os enfermos aguardem o mesmo fatal destino, porque ninguém se ateve a aproximar-se deles. Não havia necessitado a quem esse homem não socorresse. Os desvalidos iam, todos os dias, à sua casa e de lá sa...

OS HERÓIS NAVEGADORES - Crônica Classica - Joseph Conrad

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OS HERÓIS NAVEGADORES Joseph Conrad Tradução de autor anônimo do séc. XX A geografia é a mais inocente de todas as ciências. Nunca enganou os homens. Quando muito, tirou-os dos seus lares e conduziu-os à morte, ou a um pouco de glória duramente conquistada. O navegador que deu à geografia moderna um novo mundo foi carregado de grilhões e metido numa prisão. Cristóvão Colombo, o inditoso navegante, destaca-se como uma figura patética, uma vítima das imperfeições e invejas do coração humano. Foi grande como um rei nos sofrimentos e nas honrarias. A sua contribuição para o conhecimento da Terra foi considerável. O descobrimento da América deu origem à maior expressão de cobiça e crueldade que a história regista, ocasionada pelo ouro do México e do Peru. Talvez isto não mostre um coração piedoso, mas devo confessar que sinto um malicioso prazer ao pensar nas decepções que sofreram os obstinados buscadores do Eldorado, escalando montanhas, abrindo caminho pelas florestas virg...

O SÓCIO - Conto Humorístico - Humberto de Campos

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O SÓCIO Humberto de Campos (1885 – 1934) Com os seus cinquenta anos de homem ocupadíssimo, o Dr. Viana Pacheco temia, embora injustamente, que a Natália, moreninha a quem protegia secretamente, caísse na vida aventurosa. Era casado, tinha um filho já rapazola e não podia, evidentemente, acompanhar a rapariga por toda a parte. E como a visse irritada contra a sua tirania, e preferisse perder a metade a perder tudo, tomou ele próprio, a iniciativa de uma proposta. — Sabes, filha — disse-lhe ele, um dia, com cuidado —, é preciso que tu andes acompanhada por alguém que vele por ti. Vamos, pois, fazer uma coisa: arranja um rapaz direito, novo, que me substitua quando eu não possa andar a teu lado. Eu o sustentarei, e a ti. O que eu quero é que tu não caias nas mãos de todo o mundo. — Como tu és bom, meu amor! — foi a resposta da moreninha, enquanto lhe cobria de beijos os olhos, a barba grisalha e a calva resplandecente. — Eu já havia pensado nisso, e tem, até, aí, um rapaz, mui...

O HOMEM E A IMAGEM DE MADEIRA - Conto - Esopo

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O HOMEM E A IMAGEM DE MADEIRA Esopo (c. 620 a.C. – 564 a.C.) Um homem pobre tinha uma imagem de madeira de um deus, à qual costumava orar, diariamente, implorando por riquezas. Assim fez isso por muito tempo, mas continuou pobre como sempre, até que um dia, aborrecido, pegou a imagem e atirou-a, com todas as suas forças, contra a parede. A potência do golpe abriu a cabeça da estátua e grande uma quantidade de moedas de ouro caiu no chão. O h omem reuniu-as avidamente e disse: — Ó, tu, velha fraude! Enquanto eu te honrei, tu não me fizeste bem algum; mas, mal eu te trato com insultos e violência, e tu prontamente fazes de mim um homem rico! Versão em português de Paulo Soriano a partir da tradução inglesa de V. S. Vernon Jones.  

MEMÓRIAS - Crônica - Thomaz Soriano Filho

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MEMÓRIAS… 1 Thomaz Soriano Filho 2 (22/05/1890 – 28/01/1919) Ao Dr. A. de A. A alegria e a saudade que sentimos quando recordamos fatos de nossa meninice são um fenômeno físico muito constante e comum aos espíritos bem formados. Alegria por termos passado por coisas tão boas e saudade porque elas já passaram na ampulheta dos “tempos que não voltam mais”. Corria o mês de março, no meio das ventanias dos dias hiemais, quando eu e meu pai nos preparamos para assistir às festas da Semana Santa em minha terra. Partimos e eu ia tão satisfeito ver a terra onde nasci e onde há muito tempo não pisava! Após um dia de viagem fatigante, saltamos na estaçãozinha—B às 7 horas da noite. Meu pai tomou a frente do caminho que nos conduzia à casa de nossa visita, cujo pessoal só eu não conhecia então. Chegados lá, trocaram-se os abraços e imediatamente nos foi oferecido um jantar. Eu, muito acanhado, apenas respondia ao que me perguntavam; e fiquei ainda mais quando vi que não havia ali um...

O LOUCO - Conto - Juan Manuel de Castela

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O LOUCO Juan Manuel de Castela (1282 – 1348) Tradução de Paulo Soriano Um bom homem tinha uma casa de banhos com uma excelente piscina. Sucede que, na mesma cidade, havia um louco que ia à piscina todos os dias e, quando as pessoas se banhavam, cuidava ele de espancá-las com pedras e paus, obrigando-as a fugir apavoradas. A notícia se espalhou por toda a cidade e chegou um momento em que ninguém se atrevia a frequentar o balneário. Assim, o proprietário via fugir a sua renda. Vendo que as coisas iam mal, e que não havia sinal de melhora, o proprietário se viu disposto a remediar a situação. Um dia, ele se levantou bem cedo e, tomando uma maça e um balde d’água fervente, dispôs-se a aguardar a chegada do louco. Logo o doido chegou, como fazia todas as manhãs, e queria bater nos banhistas, como lhe era de costume. Mas o dono, assim que o viu entrar, seguiu até ele sem a menor hesitação, lançou-lhe o conteúdo do balde de água fervente na cabeça e, empunhando a maça, pôs-se...