OFÉLIA - Poema em Prosa - Sarainés Kasdan

OFÉLIA Sarainés Kasdan Tradução de Paulo Soriano A morte chegou a destempo, como se fosse uma amante resignada e abatida. Não a esperava o salgueiro, com seus galhos abertos; não a esperava a tarde, silente e pacífica; não a esperava as flores brancas, vermelhas e amarelas. E, claro, nem Ofélia por ela esperava quando seu corpo se rendeu ao riacho de águas cristalinas. Tudo isso aconteceu enquanto a tarde fenecia junto a um salgueiro de galhos abertos, um salgueiro-chorão de folhas cinzentas, um salgueiro que oferecia suas folhas de outono à corrente cristalina. Naquela tarde, Ofelia visitou o salgueiro e o riacho. Levava consigo um buquê de flores brancas, vermelhas e amarelas; pendurou o buquê em um galho quebradiço, um galho invejoso a ponto de partir-se, um galho moribundo que, quando se quebrou, levou consigo folhas cinzentas, flores brancas, vermelhas e amarelas, e um corpo feminino e um ramo, em meio ao assombro do riacho cristalino. Ela poderia se ter lev...