A CRIADA DO ESTUDANTE - Conto Humorístico - Humberto de Campos
A
CRIADA DO ESTUDANTE
Humberto
de Campos
(1886
– 1934)
Era
uma vez, na cidade de Tchinfanfu, circunscrição do Kuetcheu, havia um estudante
chamado Ting-lih-Tchung. Como a sua vida era consumida da leitura dos grandes
livros da Sabedoria, não tinha para o servir senão uma criada.
Certo
dia, na ocasião em que a rapariga trazia vinho ao seu senhor, dirigiu-lhe,
este, uma pilhéria. A criada, que era muito tímida, ficou toda vermelha, e, na
sua atrapalhação, respondeu-lhe com uma inconveniência.
—
Que é isto? — gritou-lhe o estudante. — Como é que te permites dizer tais
coisas na minha presença? Vais ser castigada pelo teu desaforo!
E,
apanhando de um feixe de varas que estava junto à parede, marcha para a
desgraçada, levanta-lhe a saia, baixa-lhe a calça, e vai começar a vergastá-la,
quando, à vista daquela carne moça e sensível, se compadece, de repente.
Durante um momento, olha, examina a beleza daquele corpo, sujeito a castigo tão
infamante. E, encostando o feixe de varas ao muro, acaricia-a, anima-a e, ao e,
ao fim, manda-a embora.
—
Agora, vai! — diz-lhe.
No
dia seguinte, estava o estudante no seu gabinete, a meditar sobre os livros da
Sabedoria, quando a tímida Tengchi lhe bateu à porta.
—
Que é, ainda? — indagou, irritado, Ting-lih-Tchung. — Eu não te havia
recomendado que ninguém me perturbasse no meu estudo?
—
Ah, meu mandarim, sou eu! — exclamou a rapariga, entrando.
—E
que desejas?
Tengchi
baixa a cabeça e soluça:
—
Eu pratiquei outra inconveniência, meu senhor; e vim aqui para ser castigada
outra vez...
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