A JUSTIÇA DO REI DOM PEDRO - Narrativa de Melchior de Santa Cruz de Dueñas
A JUSTIÇA DO REI DOM PEDRO
Melchior de Santa Cruz de Dueñas
(c.1505 – 1585)
Tradução de Paulo Soriano
Um arquidiácono da igreja de Sevilha matou um sapateiro da mesma cidade e um dos filhos do falecido foi pedir justiça. O juiz da Igreja condenou o assassino abster-se da celebração da missa por um ano.
Poucos dias depois, tendo o rei D. Pedro chegado a Sevilha, o filho do homem morto foi ao rei, contando-lhe como o arquidiácono de Sevilha havia matado o seu pai. O rei perguntou-lhe se ele havia pedido justiça. O filho contou-lhe o caso como sucedido. Disse-lhe o rei:
—Serás o homem que irá matá-lo, já que não lhe fizeram justiça?
O moço respondeu:
— Sim, senhor.
— Então, faça-o assim — disse-lhe o rei.
Isto foi na véspera da festa de Corpus Christi. No dia seguinte, quando o arquidiácono ia em procissão, próximo ao rei, o jovem deu-lhe duas punhaladas. O clérigo caiu morto.
A Justiça prendeu o rapaz, mas o rei ordenou que o levassem à sua presença. E perguntou-lhe por que havia matado aquele homem.
O moço disse-lhe:
— Fi-lo, senhor, porque ele matou meu pai e, embora eu tenha pedido justiça, ela não me foi feita.
O juiz da Igreja, que estava nas cercanias, respondeu que tinha feito, sim, justiça, e muito benfeita.
O rei quis saber a justiça que havia sido feita.
O juiz respondeu que o havia condenado a não celebrar missa por um ano.
O rei disse ao seu alcaide:
— Solte esse homem, pois eu o condeno a não costurar sapatos por um ano.
Fonte: Floresta Espanhola.
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