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Mostrando postagens de outubro, 2023

A MULHER DO CAOLHO - Narrativa Humorística Clássica - Margarida de Navarra

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  A MULHER DO CAOLHO Margarida de Navarra (1492 – 1549)   A serviço de Carlos, último duque de Alençon, havia um velho criado que perdera um olho e era casado com uma mulher muito mais nova que ele. Como o seu senhor e a sua senhora gostavam dele tanto quanto de qualquer homem de sua condição que estivesse a seu serviço, ele não podia visitar a esposa com a frequência desejada. Devido a isso, a mulher esqueceu-se tanto de sua honra quanto de sua lealdade e, por fim, apaixonou-se por um homem jovem. Por conseguinte, a notícia daquele caso propalou-se e o marido disto tomou conhecimento. Ele, no entanto, por conta dos muitos notáveis sinais de amor que sua esposa lhe demonstrava, não podia acreditar no que escutava. Todavia, certo dia, ele decidiu colocar o assunto à prova e vingar-se, se fosse o caso, da mulher que o havia envergonhado tanto. A tal fim, fingiu que viajaria a um lugar distante, por dois ou três dias. Assim que ele saiu, a sua mulher mandou chamar o amante.

O RELÓGIO - Narrativa Clássica - Charles Baudelaire

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  O RELÓGIO Charles Baudelaire Tradução de Paulo Soriano   Os chineses consultam as horas nos olhos dos gatos. Certa feita, um missionário, caminhando pelos arredores de Nanjing, percebeu que havia esquecido o relógio e perguntou a um menino que horas seriam. A princípio, o filho do Império Celestial hesitou. Depois, mudando de ideia, respondeu: — Digo-lhe já. Momentos depois, ele reapareceu, segurando nos braços um gato muito grande e, olhando-o, como dizem, “no branco dos olhos”, afirmou, sem hesitar: — Não é ainda meio-dia. E era verdade. No meu caso, se me achego à bela Felina, que tem um nome tão apropriado — e que é, ao mesmo tempo, a honra do seu sexo, o orgulho do meu coração e o perfume do meu espírito, seja de noite ou de dia, em plena luz ou em sombra opaca —, no fundo dos seus adoráveis olhos eu ​​vejo sempre claramente o tempo, um tempo sempre igual, uma hora vasta e solene, grande como o espaço, sem divisões de minutos ou segundos — uma hora imóvel,

A CARRANCA - Crônica - Henry Evaristo

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  A CARRANCA [1] Henry Evaristo (1975 - 2010)   Vivi uma experiência similar um dia. Estava numa lanchonete e um menino de rua me abordou, pedindo comida. Creio que eram umas seis horas da tarde. Mas ele não pediu o lanche com muitas esperanças de ganhá-lo, pois, mal me abordou, já foi dando as costas para ir embora; antes mesmo de obter uma resposta, como se o próprio ato de pedir e não conseguir, já repetido tantas vezes naquele dia, tivesse se tornado automático e inescapável. Minha experiência começou quando ele se virou completamente surpreso ao me ouvir chamá-lo com um desconsertado " Ei, espera ai !". Voltou, ficou parado em pé na minha frente. Mandei sentar-se e esperar. Fui até o caixa, paguei minha conta e ordenei que servissem ao menino o que ele quisesse. Após entregarem o pedido do menino, paguei o valor. Não voltei à mesa onde o garoto estava. Fiquei vendo-o de longe, lá do caixa, enquanto ele começava a comer seu lanche com a cabeça abaixada. Ora, s

O CAMALEÃO - Conto Humorístico - Mark Twain

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  O CAMALEÃO Mark Twain (1835 – 1910)   Tive, outrora, um soberbo camaleão, exemplar único, que fazia a minha alegria e a dos meus amigos. Nós o colocávamos. sobre uma fazenda amarela, ele se tornava amarelo; sobre uma fazenda vermelha, ele ficava cor de purpura; e sobre um fundo verde, ele não tinha dúvidas em brilhar como a mais bela esmeralda. Um dia, voltando de um demorado passeio, encontrei a minha governanta desfeita em lagrimas. — Que há, Sra. Baxter? — perguntei ansioso. — O camaleão, Sr. Twain, o camaleão! — proferiu ela entre dois soluços. — Bem, que tem o camaleão? — Morreu! — respondeu a Sra. Baxter. E desmaiou. Voltando a si, ela me contou o seguinte: —Durante a sua ausência, Sr. Twain, uma de minhas amigas veio me ver. Tendo-lhe falado do seu camaleão, ela não teve descanso até que eu lhe mostrasse o animal. Nós o colocamos sucessivamente sobre pedaços de fazenda amarela, vermelha e verde, e ele se tornou sucessivamente amarelo, vermelho e verde. Fi