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Mostrando postagens de junho, 2024

CARIDADE FILIAL - Narrativa Clássica - Plínio, o Velho

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  CARIDADE FILIAL Plínio, o Velho (23 – 79) Infinito é o número de exemplos de afeto que se conhecem em todas as partes do mundo; mas um, em particular, ocorreu em Roma e a este nenhum outro pode ser comparado. Uma mulher de classe muito baixa, e cujo nome não chegou até nós, tendo dado à luz recentemente uma criança, obteve permissão para visitar a mãe, que estava confinada na prisão. Era sempre cuidadosamente revistada pelo carcereiro antes de ser admitida, para evitar que introduzisse na cela qualquer alimento. Por fim, porém, foi a jovem flagrada alimentando a mãe com o leite do próprio seio. Assim, levando em consideração o maravilhoso afeto da filha, a mãe foi perdoada, e ambas foram sustentadas pelo erário pelo resto dos seus dias. Versão em português de Paulo Soriano a partir da tradução inglesa de Henry Thomas Riley (1816 – 1878) e Johan Bostock (1773 – 1846). Imagem: Guercino (séc. XVII).

O VISITANTE DO SR. TESTADOR - Conto de Charles Dickens

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O VISITANTE DO SR. TESTADOR Charles Dickens (1812 – 1870) Tradução de Paulo Soriano Era um homem que, conquanto não tivesse mais de trinta anos, contemplara a vida a partir de diversas ocupações irreconciliáveis: dentre outras estranhas atividades, havia sido um oficial de um regimento sul-americano. Mas, como não tivera êxito em quaisquer dos estilos de vida que abraçara, acabou endividado e, agora, vivia escondido. Instalou-se, assim, num apartamento dos mais sombrios de Lyons Inn. Não era, no entanto, o seu nome que estava escrito na porta ou no batente superior: era o de um amigo, que ali morrera, e lhe legara a mobília. A história surgiu do mobiliário e tem o seguinte propósito: estabelecer que o antigo morador do apartamento — cujo nome ainda estava na porta ou no batente — era o Sr. Testador. O Sr. Testador ocupava um apartamento em Lyons Inn, mas tinha escassos móveis em seu dormitório e nenhum em sua sala de estar. Passara alguns meses de inverno nessa condição, e

GIANNI E A ÉGUA - Conto Humorístico de Giovanni Boccaccio

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  GIANNI E A ÉGUA Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) Tradução de Paulo Soriano No ano passado, havia em Barletta um padre, chamado Dom Gianni di Barolo, que, pároco de uma igreja pobre, para prover o próprio sustento, começou a carregar mercadorias com uma égua, de cá para lá, pelas feiras de Apulia, a comprar e a vender. Assim andando, travou estreita amizade com um homem chamado Pietro da Tresanti, que exercia o mesmo ofício com um jumento. Em sinal de afeição e amizade, conforme o costume apulense, chamava-o sempre de compadre Pietro. E todas as vezes que o compadre chegava a Barletta, levava-o à sua igreja, e ali o hospedava e o recebia com todas as honras possíveis. Compadre Pietro, a seu turno, sendo paupérrimo, tinha uma pequena cabana em Tresanti, suficiente apenas para ele, sua jovem e bela mulher e seu jumento. Todas as vezes que Dom Gianni aparecia em Tresanti, Pietro o levava à sua casa e, como podia, em honra à hospitalidade que recebia em Barletta, fazia as honras de