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O FANTASMA - Conto de Emilia Pardo Bazán

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  O FANTASMA Emilia Pardo Bazán (1851 – 1921) Tradução de Paulo Soriano     Quando eu fazia faculdade em Madri, todas as quintas-feiras comia na casa dos meus parentes distantes, os senhores de Cardona, que, desde o primeiro dia, me acolheram e trataram-me com sumo carinho. Marido e mulher formavam um contraste gritante: ele era robusto, sanguíneo, franco, alegre, partidário de soluções práticas; ela, pálida, nervosa, romântica, perseguidora do ideal. Ele se chamava Ramón; ela tinha o nome antiquado de Leonor. Para minha imaginação juvenil, aqueles dois seres representavam prosa e poesia. Esmerava-se Leonor por me apresentar os pratos de que eu gostava, minhas guloseimas preferidas, e com as próprias mãos preparava-me, numa brunida cafeteira russa, o café mais forte e aromático que pode apetecer a um aficionado. Seus dedos longos e delgados me ofereceram a xícara de porcelana e, enquanto eu saboreava a deliciosa infusão, os olhos de Leonor, do mesmo tom escu...

O VIAJANTE - Conto de Emilia Pardo Bazán

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O VIAJANTE Emília Pardo Bazán (1851 – 1921) Fria, glacial era a noite. O Vento silvava impetuoso e a chuva caía tenaz, já em rajadas, já em aguaceiros fortes. Nas duas ou três vezes em que Martha se aproximava da janela para ver se aplacava a tempestade, deslumbrou-a a rápida luz de um relâmpago e a encheu de horror o ribombar do trovão, tão em cirna da sua cabeça que parecia atirar a casa a baixo. Quando com mais fúria se desencadeavam os elementos, ouviu Martha distintamente que batiam à sua porta e percebeu um acento gemedor e premente que a instava a abrir. Sem dúvida, a prudência aconselhava a Martha desatendê-lo, pois em noite tão espantosa, quando nenhum vizinho honrado ousa sair à rua, só os malfeitores e os perdidos libertinos são capazes de arrostar vento e chuva em busca de aventuras e presas. Martha deveria ter pensado que quem possui um lar, e nele uma mãe, uma irmã, uma esposa que o console, não sai em noite de inverno sob uma tormenta desabrida, nem bate...