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Mostrando postagens de agosto, 2018

ALARME NOTURNO - Conto de Anton Tchekhov

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ALARME NOTURNO Anton Tchekhov U ma mosca de regular tamanho introduzira-se lentamente no nariz do sr. Gagin . O nariz não tolerou a presença desse corpo estranho, e deu, com um espirro, o sinal de alarme. Gagin espirrou, em realidade com todo o seu corpo. Sua esposa Maria estremeceu, despertando, e virou-se para o outro lado, disposta a prosseguir no sono. Transcorridos uns minutos, tornou a virar-se. Mas não conseguiu conciliar o sono. Cansada de se voltar na cama, levantou-se e aproximou-se da janela. Fora, reinavam as sombras e o silêncio. Do lado leste, uma ligeira claridade permitia distinguir os contornos das árvores e o perfil dos tetos. De repente, Maria soltou um grito. Teve a impressão que vira no jardim uma sombra negra, que se aproximava da casa. Um homem!... Um ladrão, com certeza!... A sombra aproximou-se da janela da cozinha. Deteve-se uns segundos, indecisa. Levantou uma perna e confundiu-se no retângulo negro. Ah!... Um ladrão!... Enquanto esse

A MOEDA - Conto de Anna Katherine Green

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A MOEDA Anna Katherine Green (1846 – 1935) — E agora, meus amigos, se viram bem e suficientemente olharam a moeda, façam, a gentileza de entregá-la a mim, valete Albert, para que a torne a colocar no cofre. Os convidados se entreolharam à espera de que o objeto aparecesse. Olhares interrogadores. A moeda não aparecia.   —Não é possível que se haja extraviado — assegurou lorde Sedgwick, com tranquilidade. — Eu a vi há um momento na mão de alguém. Ah, sim! Barrow, ela estava com você. Que fez dela?   —Passei-a a outros.   —Bem. Terá corrido para debaixo de alguma fresta. Enquanto lorde Sedgwick se inclinava para olhar em sua própria cadeira, os demais hóspedes o imitavam.   —Não se incomodem, senhores — continuou. — Bebamos à nossa saúde e deixemos que Albert a procure quando tivermos saído da sala.   Entretanto, notava-se nele certa preocupação: a moeda era raríssima e a contava entre os mais preciosos espécimes de sua coleção. Por outra part

A TRAPAÇA - Conto breve de Anton Tchekhov

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A TRAPAÇA Anton Tchekhov (1860 – 1904) Nos velhos tempos, na Inglaterra, aos delinquentes condenados à pena de morte conferia-se o direito de vender, em vida, os próprios cadáveres a anatomistas e fisiólogos. Com o dinheiro assim obtido, os condenados, quando não ajudavam a família, o esbanjavam. Um deles, apanhado num crime hediondo, chamou a si um médico cientista e, após barganhar com este até onde pôde, vendeu a si mesmo por dois guinéus. Tendo recebido o dinheiro, o criminoso, de repente, começou a gargalhar... — Está rindo de quê — perguntou o médico, admirado. — O senhor me comprou como a alguém que deveria ser enfocado — disse o criminoso, gargalhando —, mas eu o enganei. Eu vou ser queimado! Ha, ha, ha! Versão em português de Paulo Soriano. Imagem: Eugène Delacroix (1798 -1863).

A LIÇÃO DE VIOLINO - Conto de E. T. A. Hoffmann

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A LIÇÃO DE VIOLINO E. T. A. Hoffmann (1776 – 1822) Muito jovem ainda, com dezesseis anos, estava eu em Berlim, onde me entregava ao estudo de minha arte, com toda a alma, com todo o entusiasmo com que a natureza me dotou. O mestre de capela, Haak, meu digno e rigorosíssimo professor, mostrava-se cada vez mais satisfeito comigo. Gabava, constantemente, a nitidez da minha arcada, e a pureza de minha afinação: bem depressa, admitiu-me ele a tocar na orquestra da Ópera e nos concertos da câmara do rei. Aí vi muitas vezes Haak conversar com Duport, Riter e outros grandes mestres, sobre as soirées musicais que dava o barão de B. e que ele preparava com tanto cuidado e aptidão que o próprio rei não desdenhava nelas tomar parte algumas vezes. Citavam sem cessar as magníficas composições dos mestres antigos que, quase esquecidas, só eram ouvidas em casa do barão, possuía a mais rara colecção de cadernos de músicas antigos e modernos. E falavam da esplêndida hospitalidade que rei