O FRATRICIDA - Conto de Gabriele D’Annnuzio
O FRATRICIDA Gabriele D’Annunzio (1863 – 1938) Mal percebeu o ruído das muletas, Lucas abriu desmesuradamente os olhos, turvos e ardentes, voltando-os para a porta onde seu irmão devia aparecer. Todo o seu rosto, emagrecido pelo sofrimento, devorado pela febre, semeado de borbulhas avermelhadas, tomou, repentinamente, um ar de dureza, quase de furor. Agarrou convulsamente as mãos da mãe, gritando com voz brusca e rouca: —Expulse-o! Expulse-o! Eu não quero vê-lo! Ouve? Eu não quero vê-lo nunca mais, nunca mais! Ouve? As palavras estrangulavam-se em sua garganta. Sufocado por um acesso de tosse, apertou nervosamente as mãos da mãe. E, sobre seu peito, a camisa agitava-se, entreabrindo-se a cada esforço. Tinha a boca inchada e, no queixo, as borbulhas secas formavam uma crosta que a cada momento se fendiam e sangravam. A mãe tentava acalmá-lo: —Não, não, meu filho. Não o verá mais. Farei o que quer. Vou expulsá-lo. Vou expulsá-lo. A casa é sua, meu filho