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O SALGUEIRO - Conto Folclórico - Liev Tolstói

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O SALGUEIRO Liev Tolstói Durante a semana da Páscoa, um camponês saiu para verificar se o solo estava de todo descongelado. Então, seguiu ao jardim e tocou o solo com um pedaço de pau. Viu que a terra estava macia. Seguiu, depois, à floresta; lá, os amentilhos já estavam encorpando-se nos salgueiros. O camponês pensou: “ Cercarei meu jardim com salgueiros; eles crescerão e formarão uma boa cerca!” Tomou o machado, cortou uma dúzia de galhos de salgueiros, afiou-os na e fincou-os no chão. Todos os salgueiros produziram brotos com folhas e, por sob a terra, espargiram-nos como raízes. Alguns deles se agarraram ao solo e cresceram; outros, porém, não se tendo firmado bem ao chão, morreram e caíram. Chegado o outono, o camponês animou-se ao ver os seus salgueiros: seis deles haviam criado raízes. Na primavera seguinte, roendo-os, as ovelhas mataram dois salgueiros, de molde que somente dois restaram. Na outra primavera, as ovelhas mordiscaram igualmente os que haviam sobrevivido

A CAUÇÃO - Conto - Friedrich Schiller

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A CAUÇÃO Friedrich Schiller (1759 – 1805) Tradução de autor desconhecido do início do séc. XX Meros esconde um punhal sob o manto e entra na casa de Dionísio de Siracusa. Os satélites fazem-no parar e prendem-no a cadeias. — Que terias feito com esse punhal? — pergunta-lhe o príncipe enfurecido. — Teria libertado a cidade dum tirano! — Expiarás esse desejo sobre a cruz. — Estou pronto a morrer e não peço perdão, mas digna-te conceder-me um favor: três dias de espera para unir minha irmã a seu noivo. Meu amigo será minha caução e, se eu faltar à palavra dada nele, poderás vingar-te. O rei pôs-se a rir e, depois dum instante de reflexão, respondeu num tom irônico: — Concedo-te três dias; mas pensa que, se não tiveres reaparecido nesse prazo expirado, teu amigo tomará teu lugar, e te considero quite. Meros corre à casa do amigo: — O rei quer que eu expie sobre a cruz a minha infeliz tentativa; todavia, concede-me três dias para assistir ao casamento de min

TORÁ - Conto de Gabriele D’Annunzio

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TORÁ Gabriele D’Annunzio (1863 – 1938) Tradução de autor anônimo do séc. XX Nessa tarde, o Adriático estava violeta, de um violeta sombrio e brilhante, sem ondas brancas, sem velas frementes. Entretanto, havia um enxame de velas sobre a linha extrema do horizonte, de velas retas, agudas, purpureadas pela última flama do Sol, destacando-se sobre o fundo argênteo, sob um bordado móvel de nuvens que pareciam perfis de casas maurescas e de minaretes em fuga. Torá descia à praia, entre as dunas cobertas de algas marinhas e de destroços impelidos pela borrasca, cantarolando uma canção de Francavilla — uma canção selvagem que não falava de amor. Após cada estrofe, cuja última nota era prolongada ao extremo, ela andava em silêncio algum tempo, a boca entreaberta, absorvendo mistral saturado de ar marinho, escutando o mar murmurante ou o grito de alguma gaivota solitária, que voava na imensidade. Sua cadela a seguia, a cauda baixa, detendo-se para farejar as algas. — Aqui, Guepe, aqui

AS NAMORADAS DO VISCONDE - Conto Humorístico de Gervásio Lobato

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AS NAMORADAS DO VISCONDE Gervásio Lobato (1850 – 1895) Os criados do Hotel Bragança andavam já intrigados e massados com tantas cartas. Todo o santo dia era o correio à porta com cartas para o senhor Visconde. O conselheiro, homem grave, sisudo, respeitável, casado com uma mulher encantadora, era primo do visconde e como ele estava aqui de passagem, um mês se tanto, nos dias em que o visconde não jantava em sua casa, vinha acompanhá-lo a jantar no hotel. Ao jantar, ao almoço, a toda a hora, o conselheiro fazia-lhe as honras da terra com uma amabilidade implacável. Mas o que o desapontava muito, o que o desgostava imenso era que, de vez em quando, o visconde fugia-lhe das mãos como uma enguia. Tinha que fazer, dizia que precisava estar a tantas horas num sítio. E ele aí ia, deixando o conselheiro todo desconsolado e pesaroso. Que demônio teria o visconde que fazer em tantos sítios? De mais a mais, já não era criança. Tinha passado os cinquenta, era feio, pintado, retinto: