O FANTASMA - Conto de Emilia Pardo Bazán
O FANTASMA Emilia Pardo Bazán (1851 – 1921) Tradução de Paulo Soriano Quando eu fazia faculdade em Madri, todas as quintas-feiras comia na casa dos meus parentes distantes, os senhores de Cardona, que, desde o primeiro dia, me acolheram e trataram-me com sumo carinho. Marido e mulher formavam um contraste gritante: ele era robusto, sanguíneo, franco, alegre, partidário de soluções práticas; ela, pálida, nervosa, romântica, perseguidora do ideal. Ele se chamava Ramón; ela tinha o nome antiquado de Leonor. Para minha imaginação juvenil, aqueles dois seres representavam prosa e poesia. Esmerava-se Leonor por me apresentar os pratos de que eu gostava, minhas guloseimas preferidas, e com as próprias mãos preparava-me, numa brunida cafeteira russa, o café mais forte e aromático que pode apetecer a um aficionado. Seus dedos longos e delgados me ofereceram a xícara de porcelana e, enquanto eu saboreava a deliciosa infusão, os olhos de Leonor, do mesmo tom escuro e quente do