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Mostrando postagens de janeiro, 2019

O LENÇO AZUL - Conto Trágico - Viscondessa de Renneville

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O LENÇO AZUL Viscondessa de Renneville (1811 – 1879) No fim do mês de outubro do ano passado, eu voltava, a pé, de Orleans para o castelo de Bardy, quando encontrei na estrada um regimento da guarda estrangeira. Travei conversação com um oficial com quem tinha algum conhecimento, e assim fui acompanhando a tropa por espaço de meia hora. No fim deste tempo, vendo que o regimento tomava para uma planície que estava à direita da estrada, perguntei ao oficial se iam fazer exercício. —Não — disse-me ele. — Vamos julgar e, provavelmente, fuzilar um soldado da minha companhia que roubou, ontem, a dona da casa que lhe deu guarida.   —Mas... Como? — repliquei, admirado. Pois vão julgá-lo, sentenciá-lo e executá-lo no mesmo momento? —Sim — respondeu o oficial. — Assim manda o nosso regulamento.   Esta razão para ele era sem réplica. Para um militar suíço, a razão, a honra, a justiça, e mesmo a humanidade, tudo está no que diz o seu regulamento. —Se quer de

O MISTÉRIO DO SANGUE - Conto - Anatole France

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O MISTÉRIO DO SANGUE Anatole France (1844 – 1924) A cidade de Siena estava como o doente que debalde busca uma boa posição na cama e acredita, ao se virar, iludir a dor. Várias vezes mudara o governo da república, que passou dos cônsules para as assembleias burguesas e que, primeiro confiado aos nobres, foi a seguir exercido pelos cambistas, os tecelões, os boticários, os peleiros, os negociantes de seda e todas as pessoas dedicadas às artes superiores. Mas tendo esses burgueses se revelado fracos e gananciosos, o povo os expulsou por sua vez e entregou o poder aos pequenos artífices. No ano de 1368 da gloriosa Encarnação do Filho de Deus, o governo foi composto de quatorze magistrados escolhidos entre os barreteiros, os magarefes, os serralheiros, os sapateiros e os pedreiros, que formaram o grande conselho chamado o Monte dos Reformadores. Eram plebeus rudes como a Loba de bronze, emblema da cidade, que amavam com um amor filial e terrível. Mas o povo, que os havia estabe

OS SINOS - Conto Trágico de Gabriele D'Annunzio

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OS SINOS Por Gabriele D'Annunzio (1863 – 1938) A Biasce, o mês de março se caracterizou por lhe trazer o mal do amor. Fazia já duas ou três noites que não lograva cerrar os olhos. Sentia por todo o seu corpo ardores como se, de um momento para outro, lhe fossem surgir através da pele um punhado de espinhos de rosas silvestres. Até o fundo da sua água furtada chegava um odor novíssimo, fresco e áspero que ascendia das plantas rasteiras e das amendoeiras em flor... Por Santa Barbara protetora!... Precisamente apoiada em um amendoeiro em flor havia visto, pela última vez,   Zolfina, enquanto ela contemplava uma barca em alto mar. Sobre sua cabeça luzia alegremente uma alvura embalsamada que rumorejava sob o sol e, em torno dela, via-se a azulada florescência de onda de linho. Seus olhos brilhavam como duas gotas de orvalho e, sem dúvida, em seu coração havia a carícia das flores. Deitado em sua tarimba, Biasce, enlouquecido, pensava nesse mundo de luzes, nesse tran

OS TRÊS LADRÕES - Conto Breve de Liev Tolstói

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OS TRÊS LADRÕES Liev Tolstói (1828 – 1810) Um camponês ia ao mercado da cidade vender um burro e um cabrito. O burro ia-lhe servindo de montaria e levava o cabrito com um cabresto amarrado à cauda da cavalgadura. O cabrito levava um chocalho. Três ladrões o avistaram. Um deles disse: —Vou roubar-lhe o cabrito sem que ele o perceba. Disse o segundo:  —Pois eu lhe roubarei o burro. —Isso é muito fácil —disse o terceiro. — Eu vou roubar-lhe a roupa, sem que ele proteste. O primeiro gatuno chegou disfarçadamente perto do camponês, e, aproveitando um momento em que ele estava distraído, desamarrou o cabresto, pregou o chocalho na cauda do burro e levou o cabrito. Em uma volta do caminho, o camponês olhou para trás e, não vendo mais o cabrito, começou a procurá-lo pela estrada. Chegou então o segundo ladrão e perguntou-lhe o que procurava. O camponês contou que lhe tinham roubado o cabrito.  —Eu o vi agora mesmo. Um homem levava o

O DEDO MILAGROSO - Conto Breve de Feng Menglong

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O DEDO MILAGROSO Feng Menglong (1534 – 1646) Um homem pobre encontrou em seu caminho um velho amigo.   Este tinha um poder sobrenatural que lhe permitia fazer milagres. Como o homem pobre se queixava das dificuldades de sua vida, o seu amigo tocou com o dedo um ladrilho, que imediatamente se transformou em ouro. Então, ofereceu ao amigo o ladrilho convertido em ouro, mas este se lamentou, dizendo que aquilo era muito pouco. O amigo tocou uma estátua de leão em pedra, que se transformou numa peça de ouro maciço e juntou-a ao ladrilho de outro. O amigo insistiu que ambos os presentes eram pouca coisa. — Então, o que tu queres além disto? — perguntou, surpreso, o realizador de prodígios. — Eu quero o teu dedo — respondeu o outro. Versão em português (tradução indireta) de Paulo Soriano.