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Mostrando postagens de setembro, 2020

A CRIADA DO ESTUDANTE - Conto Humorístico - Humberto de Campos

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  A CRIADA DO ESTUDANTE Humberto de Campos (1886 – 1934)   Era uma vez, na cidade de Tchinfanfu, circunscrição do Kuetcheu, havia um estudante chamado Ting-lih-Tchung. Como a sua vida era consumida da leitura dos grandes livros da Sabedoria, não tinha para o servir senão uma criada. Certo dia, na ocasião em que a rapariga trazia vinho ao seu senhor, dirigiu-lhe, este, uma pilhéria. A criada, que era muito tímida, ficou toda vermelha, e, na sua atrapalhação, respondeu-lhe com uma inconveniência. — Que é isto? — gritou-lhe o estudante. — Como é que te permites dizer tais coisas na minha presença? Vais ser castigada pelo teu desaforo! E, apanhando de um feixe de varas que estava junto à parede, marcha para a desgraçada, levanta-lhe a saia, baixa-lhe a calça, e vai começar a vergastá-la, quando, à vista daquela carne moça e sensível, se compadece, de repente. Durante um momento, olha, examina a beleza daquele corpo, sujeito a castigo tão infamante. E, encostando o fe...

CHARLOTTE CORDAY - Narrativa Histórica - Thomas Carlyle

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CHARLOTTE CORDAY Thomas Carlyle (1795 – 1881)     Na sala de espera do Palácio da Intendência, onde vêm e vão, atarefados, os deputados, uma jovem, acompanhada por um velho criado, despede-se grave e gentilmente do deputado Barbaroux. Figura normanda majestosa, vinte e cinco anos, o rosto fogoso e sereno. Chama-se Charlotte Corday. Até aqui, quando ainda existia a nobreza, chamava-se de Armans. Barbaroux deu-lhe uma carta para o deputado Duperret — aquele que uma vez, na efervescência, desembainhara a espada. Parece que vai a Paris com algum recado. "Era uma republicana antes da revolução e nunca lhe faltou energia". Nesta formosa figura de mulher há mesa e decisão. "Por energia ela entende o espírito que guia aqueles que se sacrificam pela pátria". Esta formosa Charlotte surgiu de repente como uma estreia da sua recôndita tranquilidade; cruel e formosa como um esplendor — meio angélico e meio diabólico  — para brilhar um momento e num momento se extinguir...

O BOM BEBERRÃO - Conto de Catulle Mendes

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  O BOM BEBERRÃO Catulle Mendes (1841 – 1909) Tradução de Humberto de Campos (1886 – 1934)     — Eu — começou John Kinkerbocker, burguês de Londres, ventripotente como um hoteleiro de Vaudeville, e nariz vermelho como uma pasta de sangue —, eu posso dizer que não há um gentleman na velha Inglaterra, nem no continente, que se possa orgulhar de me haver visto tombar para baixo da mesa. O gim, o brandy , o porter , o ale , nunca triunfaram sobre mim. Quando eu lhes tenha preparado uma boa cama de bife com queijo, um rio de hand-and-half pode rolar por dentro de mim sem o menor inconveniente deste mundo. Minha capacidade é incomparável. Eu absorvo e resisto como ninguém. Se me furassem a barriga, sairiam dela bebidas para embebedar, durante um domingo, todos os alcoólatras de Dublin. Aos meus olhos, só há duas pessoas dignas de elogio, em matéria de resistência ao álcool. É meu compadre Anaximandro Ponbocker, excelente bebedor de ale, e mistress Flore Kincker...

SUBMISSÃO - Conto de Anton Tchekhov

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SUBMISSÃO Anton Tchekhov (1860 – 1904)   Há poucos dias, chamei Yulia Vasilievna, a governanta de meus filhos, para vir ao meu escritório. Precisávamos acertar  as contas. — Sente-se, Yulia Vasilievna — disse-lhe. —  Vamos acertar nossas contas. Você certamente precisa de dinheiro, mas é tão cerimoniosa que nem mesmo veio me pedir... Vejamos... Combinamos trinta rublos por mês... — Quarenta... — Não. Foram trinta... Eu tenho tudo anotado. Sempre paguei trinta rublos às governantas... Vejamos... Você está conosco há dois meses... — Dois meses e cinco dias... — Dois meses completos. Eu tenho aqui anotado. Você tem, portanto, direito a sessenta rublos... Mas temos que descontar nove domingos... Porque aos domingos você não dava aulas a Kolia, somente o levava para passear... mais três dias de feriado... O rosto de Yulia Vasilievna tingiu-se de vermelho e ela começou a puxar o babado do vestido, mas... nenhuma palavra! — Três dia...

LANÇAMENTO - HISTÓRIAS NEFASTAS - Paulo Soriano

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HISTÓRIAS NEFASTAS (Contos) Paulo Soriano Baixe  aqui  a amostra grátis    Após anos militando no site  Contos de Terror , Paulo Soriano montou o seu primeiro livro de contos, em que, da parte alta de Salvador, Bahia, ele mirava o outro lado do Atlântico em busca das raízes europeias do horror. O que encontra é a tradição do conto gótico e sua arte atmosférica. Soriano deixa claro que conhece em profundidade essa tradição e que possui os recursos literários — descritivos e lexicais — para emular seus efeitos. No gótico, o mundo exterior, seja como construções ou corpos humanos, espelha a decadência moral dos personagens. É exatamente o que vemos no elenco de homúnculos, deformados, anões, fantasmas, lobisomens, vampiros, alquimistas, alienígenas, cientistas loucos, envenenadores e sombras de vida própria. O livro é organizado cronologicamente — as primeiras histórias têm estilo e ambientação típicos do conto gótico, as últimas vão se modernizando e variando cená...

CIÚME - Conto - Pierre Veber

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CIÚME Pierre Veber (1869 – 1942) Tradução de Humberto de Campos (1886 – 1934)    Certo, a lógica dos homens é o que há de mais penoso e inconsequente. Quando João, que amava Mme. Paula, verificou que era correspondido, pediu-lhe a mão, e casou-se. E foi-lhe logo, dizendo:  — Minha querida, os maridos que amam verdadeiramente são ciumentos. E eu te amo verdadeiramente. — E eu te dei motivo para ciúmes? — Não; mas todas as vezes que eu examino que és bela, fico a pensar que outros podem te achar bela, como eu te acho. — Está bem,— disse ela.  E, para que o marido vivesse tranquilo, deixou que a maternidade gastasse o seu corpo maravilhoso. — E agora, ainda tens ciúmes? — Oh, sim; os teus cabelos são longos, finos, sedosos e ondulados, e outros te podem amar só por causa deles. — Está bem — disse ela.  E para que o marido não vivesse em sobressalto, cortou, quase rente, os seus lindos cabelos sedosos.  — E agora, ainda tens ci...