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Mostrando postagens de abril, 2023

OGUSTO - Crônica - Paulo Soriano

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  OGUSTO (OU CRÔNICA DE UM NATAL COMUM) Paulo Soriano     Para Henry Evaristo, in memoriam.   – Moço, o senhor me paga um almoço pra mim? É comum que os pequenos, ao abordarem na rua as pessoas, estendam as mãos e peçam baixinho, teatralizando um olhar humilde e piedoso. Não foi assim com aquele garoto mulato, de belos olhos cor-de-avelã. Tinha um sorriso bonito no rosto e parecia especialmente feliz. – Como é o seu nome? – Ogusto. – Venha, Ogusto. O homem, que achou graça naquele menino raquítico, de alvos dentes e olhar esperto, caminhava em direção ao shopping . O menino tocou-o sutilmente no cotovelo quando se aproximavam de um dos portões de entrada: – Me dê a mão, moço, senão os segurança me barra. O homem obedeceu. Olhou para o menino, que sorria radiante, e sentiu uma ternura inocente — e um certo orgulho indefinido —, algo que o pai deveria sentir quando leva o filho para passear em um fim de semana ensolarado. – Qual é o seu time, Ogusto? – pergunt

O CONTO DO VIGÁRIO - Crônica Clássica - Mário José de Almeida

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  O CONTO DO VIGÁRIO Mário José de Almeida (Início do séc.   XX)   Inácio José Pereira Maranhense, ainda pouco conhecido como vigarista, frequentava uma roda em que havia um homem que gostava de usar joias.   Uma tarde, ele surgiu casualmente no café em que costumavam se encontrar para palestras descuidadas e trazia no dedo um anel de ouro com um autêntico brilhante. A joia despertou a atenção e passou de mão em mão, porque o Maranhense, com muita naturalidade, tirou-a do dedo e colocou-a sobre a mesa.   —Quanto vale, Maranhense? —Não vale nada. É apenas um trabalho bem feito. —Mas é de ouro?   —Não. O aro é de plaquet e essa pedra é um brilhante de Paris. — Qual, eu conheço joias — disse o homem, que costumava usá-las. E continuou: — Esse anel é verdadeiro e, se você quiser, dou 500$000 por ele. —Você está doido. Isto vale uns 20$000, quando muito. E encaminhou a conversa para outro assunto. No dia seguinte surgiu o Maranhense com o mesmo anel no dedo. Com

O PEQUENO DUMAS E A MORTE DO PAI - Crônica - Paulo Soriano

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  O PEQUENO DUMAS E A MORTE DO PAI Paulo Soriano   Dumas tinha apenas quatro anos incompletos quando morreu seu pai, o general Thomas-Alexandre Dumas. Conta-nos Heloísa Pietro, com lastro em André Maurois, que, na manhã seguinte à morte do general, ao acordar o pequenino órfão, disseram-lhe: – Meu querido menino, seu pai, que o amava tanto, faleceu. – Papai faleceu? O que isto quer dizer? – Quer dizer que você não o verá mais. – E por que não? – Porque o bom Deus o levou consigo. – E onde mora o bom Deus? – No céu. O menino calou-se, mas, assim que voltou para a sua casa, correu até o quarto do pai e pegou seu fuzil. Subiu as escadas e pôs-se à janela. Encontrou a mãe, que chorava copiosamente. – Aonde você vai? – Vou para o céu. – E o que você fará no céu, meu menino? – Vou matar o bom Deus que matou o meu pai. Genial, Dumas, desde criança...