O CONTO DO VIGÁRIO - Crônica Clássica - Mário José de Almeida
O CONTO DO VIGÁRIO
Mário José de Almeida
(Início do séc. XX)
Inácio
José Pereira Maranhense, ainda pouco conhecido como vigarista, frequentava uma
roda em que havia um homem que gostava de usar joias.
Uma tarde, ele surgiu casualmente no café em
que costumavam se encontrar para palestras descuidadas e trazia no dedo um anel
de ouro com um autêntico brilhante.
A
joia despertou a atenção e passou de mão em mão, porque o Maranhense, com muita
naturalidade, tirou-a do dedo e colocou-a sobre a mesa.
—Quanto vale, Maranhense?
—Não
vale nada. É apenas um trabalho bem feito.
—Mas
é de ouro?
—Não. O aro é de plaquet e essa pedra é um brilhante de Paris.
—
Qual, eu conheço joias — disse o homem, que costumava usá-las. E continuou: — Esse
anel é verdadeiro e, se você quiser, dou 500$000 por ele.
—Você
está doido. Isto vale uns 20$000, quando muito.
E
encaminhou a conversa para outro assunto.
No
dia seguinte surgiu o Maranhense com o mesmo anel no dedo. Como era natural,
falaram sobre a joia.
—Como
é? Quer os 500$000?
—Pois
que você insiste! Eu já não lhe disse que isso não vale nada?
—Mas
por quanto você comprou?
—Eu
não comprei. Achei há muito tempo e, mostrando a um vendedor de joias, ele me
disse que não vale nada.
—Então
vamos entrar em uma ourivesaria e se não for falso eu dou o que disse.
—Vamos.
Mas eu amanhã não quero explicações com a polícia. Vendo, mas você passa um
recibo declarando que pagou 500$000 por um anel falso.
E,
dirigindo-se aos demais presentes, disse:
—
E vocês assignam como testemunhas.
—
Está certo.
E
foram a um Ourives.
O
profissional concordou que por 500$000 era bom negócio para ambos.
Saíram
e foi o recibo feito como exigira o Maranhense.
No
momento, porém, de entregar a joia, ele fez a escamoteação e deu ao comprador
um anel falso com o mesmo aspecto daquele que o ourives examinara.
E foi-se.
É claro que, pouco depois, ao contemplar o seu
anel, o homem verificou que o idiota não era o Maranhense.
Mas
o caso foi tão bem construído que escapava ao Código Penal.
Fonte: “Vida Policial” (RJ), 21 de março de 1925.
Fizeram-se breves adaptações textuais.
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