CANALHA - Conto breve - Júlio Portus Cale
CANALHA Júlio Portus Cale Quando formulada aquela clássica pergunta, que todos os adultos fazem e não cansam de fazer, a mais nova das minhas irmãs respondia sem pestanejar: — Quero ser cirqueira ou caixa de supermercado. Realmente, ela adorava circos e ficava deslumbrada com as mulheres trapezistas e assistentes de mágico, com seus maiôs cintilantes, cheias de gestos e melindres fascinantes. Talvez mais encantada ficava quando contemplava, de olhos abertos e queixo caído, a moça de mão direita flexível, leve e ágil como a de um violonista virtuoso, extraindo da geringonça pesada, repleta de teclas e botões, aqueles sonidos tão cristalinos, tão maravilhosos... Quando formulei a pergunta a Fabinho, ele pensou um pouco e me respondeu: — Quero ser um canalha! — Canalha? No alto da sabedoria de seus doze anos, Fabinho prosseguiu: — O canalha sempre se dá bem. Quando a gente é certinho, quando anda na linha, só quebra a cara. Mas se o cara é canalha, só por isso