A MUDANÇA - Conto de Roberto Prado Barbosa Junior
A MUDANÇA
Roberto Prado Barbosa
Junior
—
Alô. Alô, está me ouvindo?
Silêncio
do outro lado da linha.
—
Alô! Sei que você está aí, vamos me responda, por favor, fale comigo. Por
favor, preciso ouvir a sua voz...
Silêncio.
Ela dolorosamente percebe que ele desligou o aparelho.
Torna
a ligar, ouve o chamado, mas não atendem.
Começa
a chorar convulsivamente. Torna a ligar para o mesmo número que continua
teimosamente a chamar.
Nada.
Vai
ao banheiro, toma uma ducha e suas lágrimas confundem-se com a água que cai.
Ainda
molhada, torna ligar. Dessa vez ele atende ao telefone.
—
Alô?
—
Oi, sou eu. Estou te ligando há horas, há dias, mas você não me atende...
—
Ah, é você? — diz com certo desconforto (nota-se que se ele soubesse que era
ela não teria atendido). — Preciso de um identificador de chamadas — murmura
quase como que para ela ouvir.
—
Por que você não me procurou mais?
Silêncio.
—
Não faça isso comigo. Olhe, não podemos terminar assim...
Silêncio.
—...eu
vou mudar, você vai ver. Nada disso irá se repetir. Juro. Fale comigo. Juro que
vou mudar...
Silêncio.
—
Não posso continuar vivendo desse jeito. Fale comigo – grita desesperada.
Ele
desliga o telefone.
Ela,
ainda molhada, joga-se na cama, chora até pegar no sono.
Acorda
com o telefone que toca.
Corre
a atender.
Mas
era engano.
Engano?
—
Eu vou mudar – fala para si mesma —, eu vou mudar. Repete esse mantra até
voltar a cair no sono.
Acorda
horas mais tarde e vai para a rua. Precisa andar, precisa espairecer as ideias,
precisa de ar, precisa ver-se livre de seus fantasmas e neuroses, precisa
encontrá-lo de qualquer jeito.
Seus
passos a levam ao shopping. Senta-se para um café, só agora percebe que
ainda está em jejum. À mesa, liga outra vez.
—
Alô?
Nada.
Dessa
vez ele nem se dá ao trabalho de atender, deve saber que é ela.
Tomado
o café, sai a andar sem rumo, move-se feito um zumbi, o olhar vazio, murmurando
o mantra "Eu vou mudar, eu vou
mudar, eu vou mudar..."
Quadras
à frente, resolve fazer uma última ligação para ele.
—
Já basta de ficar rastejando.
Ao
pronunciar tais palavras, percebe que realmente está começando a mudar e pela
primeira vez em vários dias sorri. Procura o celular na bolsa e não o encontra.
Ela
esqueceu o aparelho na mesa do Café no shopping. Mas isso não importa
mais, ela mudou sim, mudou e percebe que a mudança é benéfica. Sorri mais uma
vez.
Agora
ereta, com a cabeça erguida e altaneira, segue a passos firmes para uma nova
vida, livre da presença dele, da sombra dele, da necessidade de estar com ele.
— Livre! — grita para si mesma, assustando as
pessoas à sua volta. Ela ri da multidão que a cerca na rua, ri das noites mal
dormidas, ri de suas lágrimas e seu pranto. Está livre da mulher que era até
poucas horas atrás.
Mas,
lá na frente, quem aparece abraçando outra mulher? Sim, ele. Ele que tem se
recusado, não!, evitado atender aos seus telefonemas, ele que a tem desprezado,
ele que a tem levado às raias da loucura, ele.
—
Mas quem é essa mulher? — ela se pergunta, enquanto nervosamente arruma os
cabelos. Tira os óculos de sol para melhor ver, compreender, entender o que
está se passando. Como ele poderia fazer isso com ela? Era por isso que ele já
não mais atendia aos seus telefonemas...
Sentiu-se
traída e inclinada ao homicídio, quando – Mas não poder ser! – diz, sorrindo um
sorriso histérico, nervoso e psicótico. Ela esconde-se do casal, entra num bar,
senta-se numa mesa atrás das grandes janelas de vidro fumê e vê a mulher que o
acompanha. Ela primeiro sorri, depois loucamente começa a gargalhar e a gritar.
—
Eu disse que mudaria, eu disse que mudaria por ele.
E
chamando a atenção dos garçons e fregueses, começa a falar feito uma possessa:
– Olhem lá! Ele está comigo, olhem lá o meu
namorado com a nova “Eu”. Vejam, vejam! Eu mudei, vejam como eu mudei!
amo! muito bom Prado!
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