O ALGOZ DE ESTRASBURGO - Conto Trágico - Charlotte de Sor
O
ALGOZ DE ESTRASBURGO
Charlotte
de Sor
(Séc.
XIX)
Numa
tarde em que Napoleão estava no seu palácio de Malmaison, cercado de toda a sua
família, sucedeu recair o assunto sobre a princesa de Wurtemberg. O imperador
então perguntou ao seu camarista que idade tinha o rei de Wurtemberg.
—
Frederico Guilherme, senhor, tem setenta anos. Nasceu em 1736, casou em 1780
com a princesa Carolina de Brunswich[1], e
enviuvou em 1788...
—Sim, enviuvou! — interrompeu o imperador. O
tom com que ele proferiu estas palavras atraiu a atenção de todos os que
estavam presentes. Seguiu-se um breve silêncio, que o imperador quebrou
contando a seguinte história:
Aos 4 de outubro de 1788, quase pelas 8 horas
da manhã, um homem se apresentou à porta de Dietrich, pretor de Estrasburgo. O
criado, quando entrou no quarto onde estava seu amo, vinha pálido e aterrado.
—Que quer, Francisco?
—Senhor, procuram-no.
—Quem
é? Fale.
—É o verdugo.
—Que
ele quer? Seja o que for, mande-o entrar.
O
algoz de Estrasburgo era um homem muito superior àqueles que em outros países
exercem o terrível ofício de carrasco. Era humano e bem-educado: tinha estudado
cirurgia, e era perito na arte de curar membros fraturados. Seus gratuitos
serviços neste ponto lhe tinham granjeado alguma popularidade entre a classe
indigente: tinha-se por ele mais compaixão do que desprezo. Contudo, a sua
presença excitava quase sempre um invencível sentimento de terror. Quando foi
introduzido à presença do pretor, observava-se em seu rosto certa expressão de
gravidade maior do que de ordinário.
—Que tem a me dizer? — perguntou-lhe o pretor.
—Eu
venho descarregar-me de um dever imperiosamente imposto pela minha consciência.
Peço-lhe, senhor, que aceite a minha revelação, e que escreva o meu depoimento
como narrarei. É algo de muita
importância, e não ocultarei nenhuma circunstância, porque olho com a devida
consideração todos os fados da minha justificação.
Estas
observações preliminares excitaram a curiosidade do pretor. Imediatamente,
abriu a sua carteira e se preparou para escrever.
O algoz começou a sua extraordinária relação
nestes termos:
—Há
quase uma semana, isto é, na noite de h6 do mês passado, estava eu em minha
casa, nos subúrbios de Kiel, à margem direita do Reno. Era mais de meia noite.
Eu tinha-me deitado, quando senti bater com força a porta. A minha velha criada
desceu para abrir. Nenhum de nós se assustou, porque eu era frequentes vezes
procurado a todas as horas da noite por pessoas pobres, que demandavam o
socorro da minha arte, com a qual sou bastante feliz em poder ser útil aos meus
semelhantes. Eu levantei-me também, e ia descendo as escadas, quando ouvi que a
pobre velha altercava com dois homens, cujos rostos estavam mascarados, e lhe
apontavam uma pistola ao peito.
“—
Matem-me — dizia ela, mas poupem o meu amo.
“—
Nenhum mal será feito a ele. Pelo contrário, seu amo será generosamente
recompensado. Mas ele deve vir conosco imediatamente. A sua vida depende da sua
condescendência.
“Então
um dos mascarados me viu, e no mesmo instante se lançaram sobre mim e me
apontaram suas pistolas. No primeiro momento de susto, julguei que eles se
queriam vingar-se de alguma execução que eu houvesse feito por ordem do rei, e
o impulso natural me obrigou a rogar-lhes me não tirassem a vida.
“—
A vossa vida não está em perigo, disseram eles, se nos obedecer pontualmente.
Porém, se hesitar, a vossa morte é certa. Pegue o melhor cutelo que tiver. Nós
ataremos os seus olhos. Guarde o silêncio e nos siga.
“A
resistência era perigosa e inútil; submeti-me ao que de mim se exigia, e eu fui
metido numa carruagem, com os olhos vendados e os dois mascarados a meu lado.
Ouvi-lhes dizer à minha criada que a que a minha vida responderia pelo seu
segredo sobre o que se passara. A carruagem partiu logo.
“Eu
ia na maior perplexidade: encomendei-me a todos os santos e comecei a calcular
em que direção caminharíamos. Neste ponto, não tive os melhores resultados;
porém calculei que a nossa jornada teria durado de 18 a 20 horas, quando a
carruagem parou. Fui cuidadosamente apeado e conduzido pelo braço por uma
escada que me pareceu ser espaçosa pelo eco das passadas. Paramos. A venda me
foi tirada e eu me achei num grande quarto: era dia claro, mas o sol estava a
ponto de se pôr. Serviram-me uma magnífica refeição de pratos sofisticados, mas
deram-me muito pouco vinho. Ao anoitecer, ordenaram-me que estivesse pronto a
cumprir o meu dever de algoz, decapitando uma pessoa que tinha sido condenada à
morte. Ainda que habituado, há muito tempo, ao penoso dever que a lei me impõe,
quando isto me foi ordenado, um profundo horror me enfraqueceu. Recobrando,
porém, a minha presença de espirito, recusei formalmente anuir sem as
formalidades que as leis prescrevem em tais circunstâncias. Então uma voz, que
ainda não tinha ouvido, me disse num tom da mais firme decisão:
“—
Faça o que é ordenado, senão o senhor pagará com a vida sem salvar a vítima.
“Achei
que seriam inúteis todos os meus esforços, e cedi à imperiosa necessidade.
Peguei no meu cutelo; lançaram-me um véu preto pela cabeça, e dois homens me
agarrarão pelos braços e me conduziram por uma correnteza de salas. Paramos
numa maior: o véu me foi tirado, e vi um cadafalso elevado a alguns pés do chão.
Um pano de veludo preto o cobria, e o chão imediato era coberto de uma espécie
de serradura encarnada. Daí a poucos minutos, vi que arrastavam uma mulher para
dentro dá sala. Ela era alta, de linda figura e cabelo louro; tinha o rosto
coberto com uma máscara; vinha vestida de veludo preto, e na cabeça uma touca
de fumo, e trazia o vestido atado acima do tornozelo com uma corda de retrós
roxo. O seu pescoço vinha despido até os ombros, e era de uma alvura e
delicadeza de pele admirável. Dois homens mascarados também a levantarão sobre
o cadafalso: ela mostrava a maior resignação; nem um suspiro seu era escutado...
nem fez a mais leve resistência; mas vi, com horror, ao aproximar-me dela,
que-trazia uma mordaça na boca. Ela inclinou a cabeça.... e colocou-a sobre o
cepo.... Escuso dizer mais! Eu me arrependo da minha fraqueza, e mil vezes me
tenho exprobrado a minha fatal condescendência! Confio, porém, que o céu me
perdoará: eu sujeitei-me involuntário à imperiosa lei da necessidade. Não
duvido de que a vítima seja uma pessoa muito ilustre, e não me admiraria ouvir
dizer que todas as cortes da Europa tinham deitado luto.
“Tendo
concluído meu horrível ministério, fui reconduzido com o mesmo cerimonial ao
primeiro quarto onde tinha estado. Achei a mesa de novo preparada, e várias
garrafas de vinho sobre ela. Sentei-me por alguns minutos, mas o estado da
minha alma não me deixou comer nada.
“Depois
fui reconduzido à minha casa da mesma maneira. Apearam-me e meteram-me nas mãos
uma bolsa de duzentos luíses. Aqui a tem, senhor Dictrich. Faça o deste dinheiro
o uso que o senhor achar conveniente. Foi-me recomendado o mais inviolável
segredo, fui ameaçado de que perderia a vida se o revelasse, e fui prevenido de
que qualquer tentativa que fizesse para o descobrir seria inútil.
O
pretor de Estrasburgo ouviu com o maior interesse e atenção esta trágica e
misteriosa narrativa. Recusou aceitar os duzentos luíses que lhe eram
depositados em suas mãos.
Mas
o algoz lhe redarguiu: “Se o senhor não quer receber este dinheiro, empregue-o
em mandar rezar missas e socorrer os pobres.” Ele leu o seu depoimento, que
assinou, e se retirou.
Logo
depois, o pretor fechou este depoimento num sobrescrito, e o selou, remetendo-o
confidencialmente ao barão de Breteuil, então presidente de ministros no
gabinete francês.
Neste
ponto, Napoleão se calou, olhando atentamente para seus ouvintes, como que
investigando o efeito que esta história teria neles produzido. Este efeito foi
muito poderoso; uma sensação geral, misturada de horror e admiração, e certa
ânsia de curiosidade, dominavam a todos os circunstantes.
Josefina
foi a primeira a romper o silencio.
—Jesus! Bonaparte! Para que conta estas horríveis
histórias? Faz por nos assustar!
Bonaparte
sorriu-se e replicou-lhe:
—Josefina, ouça o fim, que não é menos
interessante.
E
depois, voltando-se para mim, me perguntou:
—Qual
julga você seria o resultado da confidencial enviada ao barão de Breteuil?
—Não o posso adivinhar, senhor.
—Pois eu lhe digo. Passadas duas semanas, Mr.
Dietrich recebeu um ofício do governador de Estrasburgo: nele vinha inclusa uma
carta do ministro Breteuil, concebida quase nestes termos: “Apresentei ao rei uma
cópia do depoimento que o senhor me remeteu. Sua majestade me ordenou que lhe
dissesse que é da sua vontade que o indivíduo que depôs conserve a soma que lhe
foi dada; e sua majestade lhe concede outra igual, sob a condição que se
guardará o mais inviolável segredo sobre o acontecido.” Agora desvendarei os mistérios desta a
ventura, que não são tão raros como a princípio parecem na história das cortes:
O duque de Wurtemberg contraiu segundas núpcias
quase nove anos depois da morte de sua primeira mulher. No tempo da minha
segunda campanha na Itália, uniu-se com Carlota Augusta Mathilde, princesa real
da Inglaterra, e filha mais velha de Jorge III. Então era unicamente príncipe
real de Wurtemberg, e sucedeu a seu pai em 19 de dezembro de 1797. Wurtemberg
tinha feito causa comum com o império germânico contra a França; porém, o
príncipe, sucedendo no trono ducal, se apressou a concluir a paz conosco.
Escrevia-me muitas vezes, e as suas cartas eram sempre concebidas nos termos
mais amigáveis; e mantivemos entre nós uma regular correspondência até a minha
partida para o Egito.
Napoleão
calou-se, como receando falar com indiscrição de suas relações então existentes
cota o duque de Wurtemberg; e depois de uma pausa de alguns minutos continuou
assim:
—A
primeira mulher do duque de Wurtemberg, mulher muito bela, foi acusada de olhar
com vistas demasiado favoráveis para um jovem a serviço do príncipe. Fiado na
benignidade que a princesa lhe mostrava, este rapaz tomou a liberdade de
abandonar o serviço de seu amo, e mesmo deixar os seus estados sem sua
permissão. Chegando à fronteira, apeou-se numa estalagem onde mandou preparara
a ceia, sentou-se à mesa, e viu escrito num prato de louça de Dresde estas
palavras: VOLTE OU TREMA. Ele voltou. Chegando ao palácio, na primeira ocasião
que se sentou à mesa, lhe apresentaram um copo de cristal com estas palavras em
letras de ouro: PARTA OU TREMA. Teria feito bem se obedecesse a esta segunda
determinação com tanta facilidade como obedeceu à primeira. Mas ele amava. E ficou.
Então
o príncipe se dirigiu ao pai de seu criado e lhe apresentou documentos que
atestavam, sem a menor dúvida, a existência de uma correspondência entre a princesa
e seu filho.
— Pronuncia a sentença sobre o criminoso — lhe
disse o príncipe.
Então
o pai, sem proferir uma palavra, segundo se diz, tirou uma mão cheia de cinza
do fogão a que se estava aquecendo, e com ela traçou ires letras: T — O — D (Tod em alemão significa morte.). O príncipe
convocou um conselho a que assistiram os principais membros do gabinete e
vários parentes da princesa. Examinaram-se os documentos, que unanimemente
foram achados de natureza assaz criminosa. Alguém se lembrou de um expediente
certamente plausível, e com o qual as coisas se acomodariam sem motim: era o
divórcio. Porém, um próximo parente da infeliz princesa se opôs a este sensato
parecer e, recusando todos os meios de prudência, sustentou que o caso merecia um
severo e pronto castigo. Esta opinião foi adotada.
Terminado
o conselho, aquele quo se tinha atrevido a falar a favor da princesa correu ao
seu quarto a avisá-la de tudo, e de seu iminente perigo. Ofereceu-se a obter-lhe
a fuga naquela mesma noite: propôs-lhe conduzi-la à, onde lhe estabeleceria a
sua residência num castelo nas Highlands. Porém, acreditará alguém que a
orgulhosa princesa rejeitou tão úteis serviços? Alucinada por uma paixão que já
não provinha de amor, mas de um furor licencioso, recusou abandonar o seu amante,
e quis ela ser e fazê-lo vítima de sua indiscrição. O conde de C..., esse
generoso cavalheiro que tinha mostrado tanto zelo em a proteger, entregou-a
então à sorte: deixou-a.
O
desgraçado rapaz habitava no palácio, e o seu quarto era no último andar do
edifício. A aporta dele abria-se para um longo corredor, por baixo do qual
havia outro semelhante, e assim até ao andar mais inferior. Um horrível e
singular plano foi concebido para a destruição deste rapaz. Arrancaram algumas
tábuas do assoalho nestes corredores exatamente por baixo umas das outras, e as
tornarão a colocar em falso, de maneira que formavam uma sucessão de aberturas
até o teto do quarto da princesa, situado por baixo do último destes
corredores. O infeliz, não tendo a menor ideia do precipício que se lhe abria
debaixo de seus pés, à hora costumada ele ia a recolher-se a seu quarto,
quando, a poucos passos da sua porta, o assoalho cede a seu peso, e despencando
de uma formidável altura, caiu sobre o teto do quarto da princesa. O forro
deste, se bem que intacto, abateu pela força do impulso, e o miserável caiu
despedaçado aos pés da sua desacordada amante!
Horrorosamente
tocada como de um raio, ele se tornou por algum tempo insensível. Todos os
criados, amedrontados pelo terrível estrondo, correrão de tropel ao quarto da princesa.
Todos se perdiam em conjecturas sobre a causa de tão trágico acontecimento:
porém, os que eram sabedores do segredo, atribuíram o infortúnio ao estado
ruinoso do piso, e os corredores foram cautelosamente fechados até que o seu
assoalho fosse de todo reparado. Por esta maneira, olhou-se este acontecimento
unicamente como um desastroso acaso.
A
princesa conheceu então a sorte que devia esperar, e foi então que se resolveu
a fugir dos domínios de seu sogro. Comunicou sua intenção à sua principal
camareira, cujo auxilio implorou. Esta agradeceu a confidencia de sua ama,
assegurando-lhe que ele podia e queria salva-la. Seu irmão pertencia à
repartição da polícia, e com a ajuda de seus agentes seria fácil iludir as
investigações de seus perseguidores. Ajustou-se que na seguinte noite a princesa
e sua criada se evadiriam do palácio por uma passagem subterrânea que conduzia
por alguns antigos caminhos de abóbada a uma casa isolada fora da cidade. Ali
estaria pronta uma carruagem que receberia a ambas. Certa de ter meio de se
salvar, a infeliz princesa, estando refletindo com o mais amargo pesar sobre a
sorte do seu amante, recebeu uma carta de seu marido, em que lhe pedia uma
entrevista. Em lugar de anuir, tão somente deu ouvidos aos ditames de sua
cólera e orgulho. Escreveu-lhe um bilhete nos seguintes termos:
“O
senhor derramou o sangue de uma vítima inocente. Somente eu sou a culpada.
Responderá pela sua morte na presença de Deus, a quem provavelmente terá também
que responder por mim. Se se julgasse capaz de ser justo, eu me curvaria ao
senhor como perante o meu juiz; mas estou demasiadamente convencida que deseja ser
não meu juiz, porém meu algoz. Não quero vê-lo e a vingança do caia sobre o
senhor!”
Uma carta semelhante não podia deixar de
exasperar os já irritados estímulos de um esposo ofendido. Chegou a noite. A princesa,
depois de juntar seus diamantes e ouro, se retirou à hora costumada para o seu
quarto; porém, logo que suas criadas se ausentaram, levantou-se e embrulhou-se
numa comprida capa de seda, semelhante às que costumam usar as senhoras da
classe média naquela parte da Alemanha. Esperava, com este disfarce, iludir as
observações.
Deixando
os quartos do palácio, a princesa e sua criada desceram por uma estreita escada
atravessando um longo corredor paralelo à cozinha. Alguns dos criados ainda
estavam de pé, mas a princesa corajosamente continuou a caminhar.
Ainda
restava atravessar uma longa galeria, quando, ao abrir uma das portas, as
chaves que a camareira levava lhe caíram da mão; o estrondo assustou os
fugitivos, mas felizmente só elas o tinham sentido. Tornaram a apanhar as
chaves e seguiram o seu caminho. Entraram então numa espaçosa abóbada, pela
qual penetraram até serem obstadas por uma porta fechada. Era a última porta
que tinham que passar dentro das muralhas do castelo. Qual foi, porém, sua
mortificação achando que nenhuma das chaves servia na fechadura!
Naturalmente,
concluíram que esta chave devia ter caído juntamente com as outras, e que
tinham omitido apanhá-la. Determinou-se, pois, que a camareira voltasse a
procurá-la, e que a princesa esperasse pela sua volta. Ela ficou sozinha, em
profunda escuridão. Muito tempo se passou, e a princesa ansiosamente escutava a
aproximação dos passos da sua companheira, porém escutava em vão. O que poderia
tê-la detido? Teria sido surpreendida, ou teria atraiçoado sua ama? Não podendo
já por mais tempo sofrer este penoso suspense, a princesa resolveu ir em
procura da sua camareira. Mas como e onde acharia a porta da abóbada? O medo
excessivo inspira frequentes vezes a coragem. Para achar a sabida da abobada,
não pôde excogitar melhor método do que andar em direitura até que suas mãos
tocassem na parede; feito isto, conservou a mão encostada à parede, até ter chegado
a uma abertura que lhe assegurasse ter alcançado a porta. Ele entrou num estreito
corredor que se comunicava com a abóbada, e cautelosamente subia para evitar
tropeçar sobre alguns fragmentos de pedra espalhados pelo chão; de repente, foi
sobressaltada ouvindo passos por cima da sua cabeça, e um raio de luz
penetrando por umas estreitas grades de ferro a tornou num momento imóvel como uma
estátua. O som de muitas vozes se deixou ouvir, e em poucos instantes a princesa
foi violentamente agarrada pelos dois braços, e arrastada do lugar onde estava
gelada de terror. A violência dos seus inimigos a despertaram de sua
insensibilidade; ele gemeu, lutou, e em voz alta implorava socorro. Seus gritos
não foram atendidos: ele foi brutalmente deitada por terra e amarrada de pés e
mãos. Envolveram-na em uma capa de cetim preto, e lhe meteram uma mordaça na
boca. Desde esse momento, somente Deus ouviu as suas queixas.
Nota do editor: “O Algoz de
Estrasburgo” é um episódio do livro “Memórias do Duque de Vicenza”. Publicado
em Paris por Alphonse Levavasseur e Co., foi escrito por Charlotte de Sor,
pseudônimo literário de Madame Eillaux, sobre a qual nada pudemos apurar. O
duque de Vicenza, Armand-Augustin-Louis de Caulaincourt (1773 – 1827), militar
e diplomata, foi um dos principais conselheiros do imperador Napoleão Bonaparte.
Segundo Vincent Conin, biógrafo do imperador, o duque de Vicenza conheceu a
romancista Madame Eillaux nas termas de Plombières-les-Bains, no ano de 1826. A
escritora teria convencido o militar, então gravemente doente, a lhe mostrar
algumas páginas de suas memórias manuscritas. Morto Caulaincourt em 1827, dez
anos depois aparecia o livro “Souvenirs du Duc de Vincence” que, pretensamente
baseado nas memórias do confidente de Bonaparte, tornou-se à época um sucesso
editorial. A presente tradução de “O
Algoz de Estrasburgo”, de autor desconhecido, foi publicada na edição da
revista “Museo Universal” (RJ) em 1840.
ESTA OBRA ESTÁ DISPONÍVEL EM E-BOOK (PDF, MOBI e e-PUB) EM FREE BOOKS EDITORA VIRTUAL
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