O POBRE RICO - Fábula de Liev Tólstoi
O POBRE RICO
Liev Tólstoi
(1828 – 1910)
Houve um homem que, tendo-se deitado,
não pôde dormir durante toda a noite.
Pensava:
“Por que é a vida tão penosa para os
pobres? E... Por que os ricos acumulam tanto dinheiro? Têm caixas cheias de
ouro e, no entanto, vivem privados de tudo, para continuar amontoando. Se eu
fosse rico, não viveria da mesma forma. Daria a mim próprio boa vida e
procuraria não ser pior que os demais”.
Repentinamente, ouviu uma voz que lhe
dizia:
— Queres ser rico? Aqui está uma bolsa.
Nela há apenas uma moeda. Porém, logo que a tires, outra a substituirá. Tira
quantas queiras e, depois, atira a bolsa ao rio. Porém, antes de deitar fora a
bolsa, não gastes nenhuma das moedas, porque o resto se transformará em pedra.
O pobre homem quase enlouqueceu de
alegria. Quando se sentiu mais tranquilo, cuidou de fazer uso do presente
maravilhoso.
E apenas tinha retirado a moeda, no
fundo da bolsa viu brilhar outra!
— A felicidade é minha! — murmurou com
um estremecimento. — Toda a noite passarei tirando moedas da bolsa e amanhã
serei rico. Então jogarei a bolsa à água e desde então viverei
confortavelmente.
Todavia, chegada a manhã, mudou de
ideia.
— Se eu quiser ter o dobro — pensou — é
bastante conservar a bolsa mais um dia.
E também passou o resto do dia
extraindo moedas. No seguinte mais, mais e mais; no outro, mais e mais... Não
podia se decidir a abandonar a bolsa.
Nessa altura, sentiu fome e então
recordou que só dispunha de um duro pedaço de pão preto.
Ir comprar alguma coisa era impossível,
pois, embora muito quisesse comer, não ousava se separar da bolsa. Assim, comeu
o infeliz aquele pão preto e duro. E, depois, continuou tirando moedas da bolsa
inesgotável.
Nem
mesmo à noite descansava.
Passou,
assim, um mês, um ano.
Quem
se teria contentado com certa quantidade? Todo mundo quer possuir mais e mais,
o máximo que for possível!
E o
infeliz vive uma vida de mendigo, esquecido de que desejara viver para seu
prazer e o de seus semelhantes.
De
vez em quando, toma uma resolução: aproxima-se do rio para lançar a bolsa à
água. Todavia, arrepende-se e volta. Hoje está velho, fraco e amarelo como seu
ouro, mas não pode interromper sua tarefa...
E
assim morre pobre, sentado sobre um banco e com a bolsa entre as mãos.
Tradução de autor
desconhecido do séc. XX. Fonte: “Eu Sei Tudo”, 9 de fevereiro de 1942
Amei essa fábula! É a técnica de teatro (exagero) mas reflete algo recorrente do ser humano
ResponderExcluir