O MÉDICO E O SAPATEIRO - Conto breve de Mário Terrabatava
O
MÉDICO E O SAPATEIRO
(Baseado numa anedota inglesa)
Mário
Terrabatava
Porque
a sua mulher adoecera seriamente, um sapateiro de Londres procurou um médico.
Todavia, vendo que o homem se vestia pobremente, e imaginando que aquele pobretão não dispunha
de recursos suficientes para cobrir os seus honorários, tratou o médico de
dispensá-lo, dizendo que estava ocupado e que não dispunha de tempo para ver a
mulher enferma.
Conhecendo
o motivo subjacente à resposta recebida, disse o sapateiro ao médico:
—
Doutor, disponho de dez libras, que economizei com grande sacrifício. Com elas,
hei de pagar por seus serviços, quer o senhor cure, quer mate a minha mulher.
Diante
de tal promessa, e lhe parecendo que o homem falava com sinceridade, o doutor
foi visitar a enferma. Mas, poucos dias depois, a mulher desceu ao túmulo.
Tendo
o sapateiro se recusado a realizar o pagamento, o doutor foi a juízo,
reclamando as dez libras prometidas.
Citado,
o sapateiro apresentou-se perante o magistrado, e este lhe expôs os motivos
pelos quais ali se encontrava.
—
Então veremos — respondeu o sapateiro.
E, dirigindo-se ao médico, disse:
—
Não é verdade, doutor, que eu prometi dar ao senhor dez libras, quer matasse,
quer curasse a minha mulher?
—
Sim, é verdade — respondeu o médico.
—
O senhor a curou, doutor? — indagou o réu.
—
Não, não a curei.
—Então,
se me cobra, decerto o senhor matou a minha esposa.
—
Claro que não! Deus me livre! Jamais matei um paciente — respondeu o renomado médico,
sentindo-se ofendido.
—
Pois bem: se o senhor não a curou, nem a matou, eu não lhe devo coisa alguma.
Ouvindo
isto, o magistrado despediu o sapateiro, julgou improcedente o pedido do médico
e ainda o condenou nas custas do processo.
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