OS OVOS - Conto Humorístico de Pierre-Jean-Baptiste Nougaret
OS
OVOS
Pierre-Jean-Baptiste
Nougaret
(1742-1823)
Um
jovem cavalheiro morava sozinho perto de Saint-Yves, em um quarto mobiliado, na
casa de uma senhora. Certo dia, olhando a criada, disse-lhe:
—Você
é do campo, minha querida?
—
Sim, senhor.
—
Eu sabia. Mas, vendo na senhorita uma mocinha tão boa e tão prendada, já gosto de você como se fosse da cidade!
—Ah,
o senhor é tão bom!
—
Agora, minha querida, como eu gosto de você, que nos serve tão bem, vou
adverti-la, para o seu bem, de que existe um certo mal que ocorre às jovens
camponesas quando vêm morar na cidade. Pequenos ovos afloram em seus ventres,
lá crescem e endurecem. Essas pobres garotas sofrem muito com isto e, para
ficarem curadas, são obrigadas a mostrar o traseiro para o barbeiro. Eu
lamentaria se algo assim acontecesse a você. Mas, se acreditar em mim, assim não
será. Farei algo por você, e já é hora
de começar, porque posso ver, pela sua fisionomia, que já existem ovos em seu
ventre.
—
Ai! — disse ela. — Senhor, eu lhe ficaria muito grata. É verdade que não me
sinto bem; não estou em meu estado natural.
—
Bem, querida, amanhã eu vou lhe dar uma coisa.
De
manhã, ela foi ao quarto do jovem cavalheiro. Ele lhe deu uma colher de hipocraz branco, que ela saboreou,
e lhe recomendou que comesse uma fatia de pão seco no desjejum. Isso continuou
por dois ou três dias. Mas, certa manhã, quando a senhora não estava em casa, ele
levou a jovem ao seu quarto, colocou-a na cama e levantou-lhe a saia e a camisa.
—
Ai, senhor, o que está fazendo?
—
Não vou machucá-la. Só quero partir-lhe um ovo que está prestes a endurecer.
Ela
consentiu. Ele introduziu, imediatamente, o seu partidor de ovos no baixo ventre da
garota. Ela achou aquilo muito bom,
embora tenha ficado um pouco assada. E
disse ao rapaz que estava feliz com o tratamento.
Ele,
frequentemente, partia os ovos dela, para grande satisfação da garota, que
gostaria de ter no ventre tantos ovos quanto pudessem ser quebrados em cem
anos.
Um
dia, ela demorou-se demais no quarto do quebrador de ovos. Ao descer as
escadas, a dona de casa ralhou com ela:
—
Muito engraçadinha a senhora! — disse. —Você certamente faz alguma coisa às
escondidas, com aquele cavalheiro, lá em cima. O que tanto faz no quarto dele?
—
Ai, nada, minha senhora!
—
Está mentindo, sua malandrinha!
—
Se me permite, senhora, é somente isto que tenho a honra de lhe dizer.
—
Você é uma mentirosa! Certamente, tem negócios escusos com o cavalheiro lá em
cima.
—
Ai! A senhora está muito enganada. Ele é o homem mais honesto do mundo. Eu
tinha ovos no abdome e ele me fez o favor de parti-los, em meu auxílio.
—
De que ovos você está falando, espertinha?
Então,
levantando a saia, que estava toda molhada na frente, ela disse:
—
Senhora, olhe e veja se não é verdade; porque aqui ainda está a clara que saiu
dos ovos que ele partiu para mim.
Tradução:
Paulo Soriano
Imagem:
Charles Sprague Pearce (1851-1914)
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