JANTAR EM SÃO PAULO - Conto - Luiz Raimundo


 

JANTAR EM SÃO PAULO

Luiz Raimundo

 

                   Seu Zé Honório era um próspero fazendeiro no município de Carmo do Rio Claro, no Oeste de Minas. Muitas cabeças de gado – tanto de corte como vacas leiteiras. Três filhos o ajudavam na administração da propriedade, e já estava numa idade de não se preocupar muito com os negócios, já que os filhos eram ajuizados e sabiam tocar a fazenda sem nenhum contratempo.

                   Sempre foi muito caseiro o Seu Zé – ele e Dona Zelinha, não eram muito de viajar. Ele, de quando em vez, dava um pulinho em Formiga para negociar com Sô Juquita Rezende, ou em Campo Belo, para prosear com seu amigo Luiz Gibran.

                   Um dia deu na telha de conhecer São Paulo. Dona Zelinha esconjurou – lá não vou de jeito nenhum. Cidade de muito atropelo, ladrão pra tudo quanto lado. Vou de jeito nenhum. Os filhos, por conta dos afazeres ficavam só adiando a viagem, para fazer companhia ao pai.

                   Certo dia, o velho Zé Honório, já com a idade de 70 anos e “caquerada”, levantou-se disposto, arrumou sua mala e tomou o ônibus das 7 horas rumo a Formiga. De lá, sem nem sair da estação rodoviária, tomou outra condução pra a cidade brasileira da neblina. Era junho de 1971.

                   Lá chegando, pediu a um motorista de praça que o levasse a um hotel mais no centro da cidade. Foi levado para o Hotel Amália, na Rua da Consolação, pois ali estaria perto de tudo que um turista ocasional podia querer.

                   Rodou uns três dias pelas imediações, assuntando os lugares e coisas, comendo em restaurantes mais simples (não havia ainda esse tal de “self-service”. A comida era boa, farta e barata, quase que tinha gostinho da de sua casa.

                   No quarto dia de visita à maior cidade do Brasil, antes de tomar o rumo de casa, resolveu arriscar mais, gastar um pouco mais de dinheiro, e ir a um restaurante mais chic. Pediu informação ao porteiro do hotel e foi, a pé mesmo, para a Avenida São João, jantar no restaurante indicado, que ele, esperto como um “cúei” (*), encontrou logo.

                   Depois de entrar, e se deslumbrar com o ambiente, veio o dilema: o que pedir pra comer naquele lugar só de comida com uns nomes esquisitos. Resolveu então sentar-se numa mesa vazia, ao lado de um senhor de termo, óculos grossos, que lia tranquilamente um jornal. E pensou: o mesmo que ele pedir eu peço, assim não passo vergonha.

                   Depois de algum tempo, já ansioso e com fome, ouviu o vizinho do lado pedir: - me traz um bife a cavalo, ao que ele, fazendo sinal para o garçom, falou: pra mim também. E vizinho continuou, – me traga também uma salada mista, arroz à grega e uma água mineral. Seu Zé Honório não pestanejou – o mesmo pra mim. O vizinho olho pra ele com o rabo do olho, mas não disse nada.

                   Comida servida, apreciada com muito gosto, sentiu-se feliz e realizado, o Seu Zé Honório.

                   Em seguida, o do lado pediu: me traga uma salada de frutas, para sobremesa. Zé Honório também copiou o pedido.

                   Terminada a sobremesa, o parceiro do lado pediu um paliteiro e conta, seguido, como até então, pelo Seu Zé.

                   Com o palito dando voltas na boca, o freguês do lado olhou para os sapatos (finíssimos, por sinal), chamou o garçom e pediu: por favor, traga um engraxate pra mim.

                   Seu Zé Honório, no ato: um pra mim também.

                   Aí, o vizinho não aguentou e disse para o Seu Zé: - que isso amigo? Um dá pra nós dois. E Zé Honório respondeu: - nada disso, cê come um, eu como o outro.

(*) Cúei, no linguajar mineiro é o mesmo que coelho.

(Essa história é de autoria anônima, já foi contada por diversas pessoas e de diversas maneiras. Esta é a minha versão.)

 

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