VENTO NOTURNO - Poema em Prosa - Emily Brontë
VENTO NOTURNO
Emily Brontë
(1818 – 1848)
Tradução de Paulo Soriano
Na
suave meia-noite de verão, a Lua — desgarrada das nuvens — brilhava por detrás da
janela aberta da nossa sala e das roseiras banhadas pelo orvalho.
Sentei-me
a pensar, em silêncio; o suave vento agitava-me os cabelos. Dizia-me ele que o céu
era glorioso, e que justa era a terra adormecida.
Não
precisei de seu alento para que me viessem tais pensamentos. Mas o vento ainda assim sussurrava, bem baixinho:
—
Quão sombrios estão os bosques! Com o meu murmúrio, estão as grossas folhas a
farfalhar, como num sonho, e esta miríade de vozes semelha um vívido instinto!
—Vai,
gentil cantor — disse eu. — É gentil o teu cortejo. Mas não penses que a tua
música pode penetrar-me a mente. Brinca com a flor perfumada, com ramo flexível
da jovem árvore, mas deixa que os meus sentimentos, humanos que são, estejam a
fluir em seu próprio curso.
O
vagabundo não me deu ouvidos. E ainda mais cálido tornou-se o seu beijo.
—
Vem! — suspirou docemente o vento. — Oponho-me à tua vontade. Não éramos amigos
em tua infância? Não te amei por tanto tempo? Mas, tanto quanto a ti, amei a
noite solene, cujo silêncio desperta o meu canto.
“E
quando o teu coração descansar sob a lápide do átrio da igreja, terei tempo
para o teu luto e, tu, para estares sozinha...”
Nota do editor: “Vento Noturno” (The Night Wind) é uma
narrativa escrita originariamente em versos. Na presente edição, a tradução
tomou a forma de poema em prosa.
Ilustração: Jean-François Millet (1814-1875).
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