O CAVALO JOHNNY - Excerto Humorístico - James Joyce
O CAVALO JOHNNY
James Joyce
1882-1941
Tradução de Paulo Soriano
— O velho cavalheiro tinha um cavalo chamado Johnny. E Johnny trabalhava no moinho do velho senhor, andando em círculos para movimentá-lo. Até então, tudo muito bem; mas, agora, vem a parte trágica de Johnny. Um belo dia, o velho cavalheiro achou que seria de bom alvitre desfilar elegantemente, com o seu cavalo, no parque, numa parada militar.
— Que o Senhor tenha piedade de sua alma — disse tia Kate, com compaixão.
— Amém — disse Gabriel. — Então o velho cavalheiro, como disse, arreou Johnny e colocou a sua melhor cartola e seu melhor colarinho. Saiu em grande estilo da mansão de seus ancestrais, situada em algum lugar perto de Back Lane, eu acho.
Todos riram, até a senhora Malins, do jeito de Gabriel. Tia Kate disse:
— Ah, Gabriel, ele não morava em Back Lane, na verdade. Só o moinho ficava lá.
— Saiu da mansão de seus ancestrais — continuou Gabriel — montado em Johnny. E tudo correu lindamente até Johnny avistar a estátua do Rei Billy. E seja porque tenha caído de paixão pelo cavalo em que o Rei Billy estava montado, seja porque achou que retornara ao moinho, ele acabou por andar em torno da estátua.
Gabriel, de galochas, andava em círculos pelo salão, em meio às risadas dos presentes.
— Ele deu voltas e mais voltas — disse Gabriel — e o velho cavalheiro, que era um senhor muito pomposo, ficou muito indignado. “Mas o que é isso, meu senhor? O que está fazendo, meu senhor? Johnny! Johnny! Que modos são estes? Não consigo entender este cavalo!”.
Excerto do conto “Os Mortos”; fonte: “Dubliners”, The Project Gutenberg, eBook.
Comentários
Postar um comentário