O MESTRE - Conto - Oscar Wilde
O MESTRE
Oscar Wilde
(1854 – 1900)
Tradução de Paulo Soriano
Então, quando a escuridão envolveu a terra de José de Arimateia, tendo ele acendido uma tocha de pinho, desceu da colina em direção ao vale. Pois ele tinha afazeres em sua própria casa.
E viu, ajoelhado sobre o sílex do Vale da Desolação, um jovem que estava nu e chorava. Seus cabelos eram da cor de mel e seu corpo era como uma flor branca, mas ele havia ferido o próprio corpo com espinhos e, com cinza, coroado os cabelos.
E aquele que tinha grandes propriedades disse ao jovem nu, que chorava:
— Não me admira que a tua tristeza seja tão grande; porque, certamente, Ele era um homem justo.
E o jovem respondeu:
— Não choro por ele, mas por mim mesmo. Eu também transformei água em vinho, curei leprosos, dei vista aos cegos. Eu andei sobre as águas e expulsei demônios daqueles que habitavam os sepulcros. Eu alimentei os famintos no deserto, onde não havia comida, e ressuscitei os mortos de suas estreitas moradas. E, conforme a minha ordem, e diante de uma grande multidão, uma figueira estéril mirrou. Tudo o que esse homem fez, eu também fiz. E, no entanto, eles não me crucificaram.
Ilustração: William Blake (1757 – 1827).

 
 
 
 
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