A CONSOLADORA - Conto - Catulle Mendes

A CONSOLADORA Catulle Mendes (1841 – 1909) Tradução de Esmeralda (Séc. XIX) A cabeça pendida nas mãos e peito convulsionado pelos soluços, ele estava sentado à cabeceira do leito da agonizante. Ela, com os olhos semicerrados apresentava a rígida palidez dos cadáveres. Alta, branca, fria, deitada de costas com os cabelos soltos, a moribunda assemelhava-se a uma estátua estendida sobre o sarcófago de uma rainha. — Oh! Não te aflijas, meu querido — balbuciou a agonizante com a voz quase extinta. —Para que sofres tanto? Perdes-me, mas também eu te deixo, e não choro. É que eu sou uma pobre mulher ignorante: sou cristã. Sei que vou adormecer para dentro em pouco acordar. E quando surgir o eterno dia, encontrar-te-ei a meu lado como nas outras manhãs. Mesmo antes de Deus, hei de ver-te primeiro a ti. Desejo que partilhes esta inefável crença. Enxuga as tuas lágrimas, sorri. Dá-me um beijo: restituí-lo-ei amanhã. Ele não respondeu. Os soluços sufocavam-no. A agonizante prosseguiu, atr...