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Mostrando postagens de novembro, 2025

DOM FELICE E ISABETTA - Conto Humorístico - Giovanni Boccaccio

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DOM FELICE E ISABETTA Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) Segundo ouvi dizer, nas cercanias do convento de São Pancrácio vivia um homem bom e rico chamado Puccio di Rinieri. Este, tendo-se entregado completamente às coisas espirituais, fez-se terciário 1 de São Francisco, e adotou o nome de Irmão Puccio. Seguindo sua vida espiritual — e como de familiares só tivesse a mulher e uma criada, e não precisava ocupar-se em nenhum ofício —, frequentava muito a igreja. E porque era um homem simples e naturalmente rústico, rezava os seus pais-nossos, ia aos sermões e às missas, e nunca faltava às laudes cantadas pelos seculares. Puccio jejuava e se disciplinava, e comentava-se que pertencia aos flagelantes 2 . A mulher, a quem chamavam senhora Isabetta, jovem de apenas vinte e oito anos, fresca, bela e roliça como uma maçã casolana 3 , pela santidade e talvez idade do marido, encontrava-se, frequentemente, em longos estados de abstenções, bem mais longos do que poderia desejar. E quando que...

A MORTE DO AVARENTO GRANDET - Excerto - Honoré de Balzac

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A MORTE DO AVARENTO GRANDET Honoré de Balzac (1799 – 1850) Tradução livre de A. G. dos Santos (Sec. XIX) No ano de 1825, Grandet, sentindo o peso das enfermidades, teve de iniciar sua filha nos segredos de sua fortuna territorial, e disse-lhe que, no caso de dificuldades, fosse entender-se com Cruchot, o tabelião, cuja probidade havia ele experimentado. Mais tarde, em fins do mesmo ano, e contando setenta e nove de idade, foi o bom homem atacado de uma paralisia, que fez rápidos progressos. M. Gtandet foi condenado por M. Bergèrie. Pensando que ia, em breve, achar-se só no mundo, Eugênia conservou-se, por assim dizer, mais perto de seu pai e estreitou mais firmemente o último elo de afeição que a ligava à sociedade. Fez prodígios de solicitudes e de atenção para com seu velho pai, cujas faculdades começavam a declinar, mas cuja avareza sustentava-se com por instinto. Não obstante, a morte deste homem não diferiu de sua vida. Logo pela manhã, fazia-se rodar entre a chaminé de se...

O VOTO DO SENHOR VAN DEN TRUFF - Conto Humorísitico - Armand Silvestre

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O VOTO DO SENHOR VAN DEN TRUFF Armand Silvestre (1837 – 1901) Tradução de autor anônimo do séc. XX I O Sr. Van den Truff era um homenzinho baixo e gordo, de grandes suíças em forma de barbatanas, abdômen proeminente, pernas delgadas e tortas, e com um ar de importância que dava mesmo vontade de lhe encher a cara de bofetadas. O desastrado que lhe puxasse pela lingua ouvir-lhe-ia decerto mais futilidades do que bons conceitos, porque o pretensioso sujeito assemelha-se a um odre cheio de vento do que uma ânfora de vinho generoso. No entanto, como era um pedante enfatuado e todo presumido de ciência tudesca, o Sr. Van den Truff, na pequena cidade em que vivia, dava leis em política e passava pelo mais ativo agente das ambições germânicas d'além do rio Mosa. Estava sempre falando na Alemanha; na destruição das raças latinas que, a seu ver, tinham os seus dias contados; na necessidade de um império que aproveitasse a obra de Carlos Magno: e, finalmente, na prussificação de t...

O PRÍNCIPE FELIZ - Conto - Oscar Wilde

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O PRÍNCIPE FELIZ Oscar Wilde Tradução de autor anônimo do séc. XX No lugar mais alto da cidade, no topo de uma coluna imensa, erigira-se a estátua do Príncipe Feliz. Recobrira-se o corpo do mais fino ouro, os olhos eram duas safiras e na espada brilhava um volumoso rubi vermelho. Era muito admirada. “É bela como um cata-vento”, exclamava maravilhado o prefeito, querendo frisar a sua reputação de artista, “apesar de não ser útil…”, acrescentou, temendo que o acreditassem despido de senso prático, o que ele possuía em dose elevada. — Por que não há de você ser parecido com o Príncipe Feliz? — dizia a mãe enternecida ao filhinho que chorava, pedindo a lua. — Ele nunca tem sonhos impossíveis. — Gostaria de saber se alguém no mundo é feliz… — murmurou, desapontado, um homem, ao contemplar a estátua maravilhosa. — Parece um anjo — dizem as crianças ao sair da catedral nos seus mantos vermelhos e impecáveis aventais brancos. — Como sabem? — indagou o professor de matemática. — Você...